Em pesquisa realizada pelo instituto DataFavela, em parceria com o Instituto de Pesquisa Locomotiva e a Central Única das Favelas (Cufa), encomendada pelo jornal O Globo, foi apontado que mais da metade (55%) dos estudantes de favelas do Brasil está sem estudar durante a pandemia. Outros 34% não conseguem participar por falta de acesso à internet. E uma outra parcela de 21% não está recebendo as atividades da escola ou faculdade na qual está matriculada.
Em razão dos novos protocolos de saúde, as aulas presenciais do ensino público estão suspensas desde o mês de março. Devido a esta suspensão, as instituições de ensino públicas adotaram o ensino remoto, uma espécie de educação à distância (EaD) improvisado, produzindo materiais às pressas para que alunos possam estudar em seus lares.
Contudo, as condições de ensino não são favoráveis para a grande maioria de estudantes da rede pública, evidenciado ainda mais a desigualdade tecnológica de alunos periféricos. Sônia Regina, moradora do Complexo do Alemão, zona Norte da cidade do Rio, é uma das mães que pouco a pouco viram seus filhos abandonarem os estudos, por ausência de uma estrutura necessária para o EaD.
Realidade das mães de alunos da favela
“A pandemia complicou cada vez mais a nossa vida, a educação do nosso estado, que já não é grande coisa, piorou com isso tudo. Não é sempre que temos uma internet disponível para estudar. Eu trabalho em casa vendendo quentinha e tenho quatro filhos, então a minha correria do dia a dia é muito grande. Não tenho tempo nem disposição para sentar e estudar com as crianças devido a essa rotina. Devido a toda essa dificuldade que apareceu, eu ainda assim consegui que eles fizessem todas as apostilas e todos os trabalhos, colocando eles em uma explicadora. E as crianças ainda estão passando de série sem aprender nada, sem saber o básico, só piora isso tudo”, relatou Sônia Regina.
A realidade de Sônia é idêntica à de inúmeras famílias moradoras de favela. A omissão do Estado no aprendizado para com aqueles que mais sofrem com a desigualdade social.
“Pior de tudo é que as escolas infelizmente não têm suporte ideal e necessário para nos amparar. Na educação didática, eu como mãe me sinto incapaz, é como se a culpa fosse minha. Meus filhos não estão aprendendo aquilo que deveriam, não estão evoluindo. Mas não é culpa minha, tento fazer de tudo para que eles tenham educação ideal. A minha parte de dentro de casa dar educação social, respeito com as pessoas, eu faço. Agora a didática, do conhecimento, é função da escola, isso não tá acontecendo”, completou Sônia.
Notas das Secretarias de Educação
A Secretaria Municipal de Educação informou que:
“A Rede Municipal de Ensino do Rio possui 22 unidades escolares no Complexo do Alemão. Do total de escolas desta região, a Coordenadoria de Integração e Gestão da SME registrou que 5 alunos desta área se evadiram em 2020. A partir de agosto, quando os gestores retornaram para as unidades escolares, foi intensificada a busca de alunos ativos e inativos, com ênfase nos anos finais, totalizando mais de 61 mil alunos contatados de 427 escolas”.
Já a Secretaria Estadual de Educação informou que :
“Ainda não é possível falar em números de abandono e evasão. A Secretaria de Estado de Educação (Seeduc) está fazendo uma busca ativa para que os alunos não parem de estudar e retomem o vínculo com a escola. As direções estão mobilizadas para reaproximar os jovens que, de alguma maneira, não acessaram a plataforma virtual ou receberam as apostilas. Mesmo sem aulas presenciais, todas as unidades da rede estão abertas, em horários adaptados e já orientados, para que os estudantes retirem o material didático, além do kit alimentação”.