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Mães de vítimas de violência policial no RJ querem ser pesquisadoras da UFRJ para conquistar direitos para os familiares

Mais de 80% são moradoras de favelas e ganham menos de 1 salário mínimo. A maioria tem forte engajamento por direitos humanos, mas sofre com abandono do poder público
Movimento de familiares de vítimas de violência policial do estado do Rio de Janeiro em ato em frente ao Palácio Guanabara Foto: Tânia Rego

Um processo seletivo na universidade trouxe à tona a dura realidade social de mães de jovens que foram mortos pela polícia no estado do Rio de Janeiro. Além da dor da perda violenta de seus filhos, elas amargam condições precárias de vida. Isso, contudo, não é capaz de impedi-las de se organizarem coletivamente não só para buscar justiça para seus filhos, como também para conquistar políticas públicas para familiares, e defender direitos sociais da população em geral.

Os dados são das inscrições do programa de bolsas de pesquisa da RAAVE fomentado pelo Ministério da Justiça junto ao Instituto de Psicologia da UFRJ. As 162 mães inscritas são candidatas para as 100 vagas de bolsistas da RAAVE, e terão como missão não só acolher novas mães que perderam seus filhos, mas também ajudar a desenvolver uma proposta de política pública para famílias afetadas pela violência de Estado.

A principal tarefa das aprovadas será ajudar a identificar as dificuldades que impedem essas famílias de terem pleno acesso a seus direitos. Os próprios dados socioeconômicos das inscrições parecem já estar contribuindo para o cumprimento deste objetivo.

Segundo as inscrições, mais de 80% são mulheres que ganham menos de 1 salário mínimo. Do total, 94% tem outros filhos além do que foi assassinado, e mais de 60% possui renda familiar inferior a 1 salário mínimo. Apenas 9% tem algum vínculo empregatício. A maioria está desempregada, é dona de casa ou autônoma. A principal fonte de renda delas são programas sociais como o Bolsa Família.

“Muitas vezes, o filho assassinado era a pessoa que auxiliava em casa financeiramente. O assassinato desse jovem traz não só a dor da perda, mas também o empobrecimento dessa família. E a falta de uma política pública psicossocial dirigida para essas famílias, acaba abrindo margem para o adoecimento dessas mulheres, que por consequência, ficam cada vez mais distantes do mercado de trabalho”, explica Dejany Ferreira, coordenadora técnica da RAAVE.

Quando perguntadas sobre quem as ajudou quando mais precisaram, ganham destaque as menções de ajudas de familiares, amigos e movimentos de mães que também perderam seus filhos. Em um segundo bloco de menções, aparecem as Igrejas, a Defensoria Pública, as organizações de direitos humanos, os grupos de psicologia e os projetos sociais. Já a Imprensa aparece em um terceiro bloco de menções, juntamente com o Ministério Público, as Comissões Parlamentares, a OAB, os movimentos sociais em geral, além dos serviços públicos do SUS e do SUAS. Governos ocupam a pior colocação, superando apenas as Polícias, que não foram sequer mencionadas.

Apesar das difíceis condições de vida, a maioria das candidatas já participa de coletivos de familiares e movimentos de direitos humanos. Quase 60% tem experiência de atividades com instituições públicas para tratar de direitos. “Em geral, o engajamento delas é um potente mecanismo de produção de saúde, seja quando elas acolhem outras mães, seja quando elas se descobrem lideranças fortes, que podem mudar a realidade com suas lutas. Isso é muito importante, e por isso acreditamos que fortalecer esse tipo de organização é o caminho para gerar uma boa proposta de política pública, reconhecendo o papel delas na produção de saúde psicossocial para famílias afetadas pela violência de Estado”, completa Guilherme Pimentel, coordenador técnico da RAAVE.

Quanto à escolaridade, mais da metade das candidatas nunca passou do Ensino Fundamental. No entanto, ao contrário dos processos seletivos clássicos, isso não as impede de participar do programa de bolsas. “Para nós, a produção de qualquer política pública que se pretenda eficiente precisa ter a centralidade de quem vive a realidade. Não podemos produzir nada sobre a vida das pessoas sem as próprias pessoas. Por isso, essas mães serão pesquisadoras e assinarão a coautoria dessa proposta de política pública.”, conta Mariana Mollica, coordenadora do programa de bolsas da RAAVE/UFRJ.

A RAAVE foi fundada após a chacina do Jacarezinho e é composta por grupos clínicos de saúde psicossocial, coletivos de mães e familiares, UFRJ, UFF, UERJ e PUC-Rio, FIOCRUZ, instituições de direitos humanos, equipe psicossocial da Defensoria e Ouvidoria.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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