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Mães buscarem os corpos de seus filhos no mangue: o nome disso é racismo

É urgente a necessidade de alterar o ciclo de violência que mata nossos filhos e adoece mães e familiares
Foto: Ricardo Moraes / Reuters
Foto: Ricardo Moraes / Reuters

Por:  Monica Cunha e Thuane Nascimento para PerifaConnection, na Folha de S.Paulo

Em 2021, as chacinas foram constantes formas do racismo estrutural operar o genocídio da população negra. Moradores do Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, no Rio de Janeiro, retiraram oito corpos de um manguezal, após operação policial promovida pelo Bope (Batalhão de Operações Especiais).

Mais uma vez a polícia do Rio de Janeiro descumpriu decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) (ADPF 635), referente a restrições à realização de operações policiais nas comunidades do Estado do Rio de Janeiro durante o período da pandemia, e praticou uma chacina.

Segundo informações da própria Polícia Militar, o Bope fora acionado para a operação depois da morte de um policial na localidade, ocorrida no dia 20 de novembro. O saldo foi de nove mortos.

Nas imagens captadas pelo helicóptero da Globo, moradores e familiares retiravam os corpos do manguezal. Em outro momento, as famílias das vítimas aguardavam a liberação dos corpos no IML. Uma característica as une: são todas negras.

A sociedade brasileira normaliza operações como essa. E esta normalização existe desde a colonização, quando negros escravizados eram tratados como coisas e propriedades de seus senhores. A objetificação dos corpos negros legitima a prática da violência contra nossos filhos, do pelourinho colonial até as favelas de hoje.

A desumanização de pessoas negras reproduz uma rotina de violência em favelas e periferias. Isso também explica a apatia da sociedade frente a esses absurdos. Tudo isso pode ser resumido em uma palavra: racismo.

Enquanto mãe, negra, que teve um filho assassinado pela polícia, digo a vocês: não dá mais para tratarmos essas chacinas como se fossem mais do mesmo.

Este ano tivemos o maior massacre praticado pela polícia do Rio de Janeiro na história, a chacina do Jacarezinho. Vinte e oito pessoas morreram no dia 6 de maio, entre eles um policial. Mulheres enterraram seus filhos no dia das mães. Isso me dói na alma.

Agora, mães tiveram que entrar na lama para retirar os corpos de seus filhos depois que os bombeiros se recusarem a ir ao local.

Ambas as chacinas ocorreram em resposta às mortes de policiais, ou seja, por vingança. Segundo pesquisa do Geni (Grupo de Estudos dos Novos Ilegalismos) da UFF, as chamadas operações vingança possuem padrões ainda mais violentos que operações com o objetivo de repressão ao tráfico. Quando o Estado mata por vingança, não há democracia que resista.

O genocídio da juventude negra e periférica é a expressão mais perversa do racismo estrutural, que destrói famílias, sonhos e expectativas. Precisamos denunciar, mas isso, por si só, não basta. É urgente partirmos para ações diretas que sejam capazes de alterar o ciclo de violência que mata nossos filhos e adoece familiares e mães cada vez mais novas. É preciso que negros e negras ocupem os espaços de poder e de tomada de decisão para que isso seja possível.

Monica Cunha
Movimento Moloque Coalizão Negra Por Direitos

Thuane Nascimento (Thux)
Aluna da Faculdade Nacional de Direito, cria da Vila Operária – favela de Duque de Caxias, diretora do PerifaConnection e integrante do Núcleo de Assessoria Jurídica Universitária Popular (Najup) Luiza Mahin

PerifaConnection, uma plataforma de disputa de narrativa das periferias, é feito por Raull Santiago, Wesley Teixeira, Salvino Oliveira, Jefferson Barbosa e Thuane Nascimento. Texto originalmente escrito para Folha de S. Paulo

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Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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