De Santa Cruz para Genebra! Ele tem 20 anos e cresceu na periferia de Santa Cruz, Zona Oeste do Rio, onde o acesso ao lazer, a cultura e a educação de qualidade estavam há duas horas de distância de trem. Desde muito novo, ele percebeu que os problemas da comunidade em que ele vivia tinha um nome: racismo ambiental. E desde então não parou de lutar por uma realidade melhor.
Luan Cazati vem de uma família, que apesar das dificuldades, sempre valorizou a educação. Criado por sua mãe e sua vó, ele conta que elas foram incansáveis para garantir que ele tivesse um futuro digno. “Sou fruto de uma oportunidade, alguém que acreditou que a mudança vem da base e confiou nos meus sonhos. Essa experiência me fez entender o poder de acreditar em alguém e me inspirou a lutar por mais oportunidades para os jovens de periferias e favelas, para que eles também possam transformar suas realidades”.
Seu envolvimento com políticas ambientais começou quando ele percebeu que as dificuldades que enfrentava, como as enchentes durante as chuvas fortes, o esgoto a céu aberto na esquina de casa e a falta de saneamento básico se caracterizam como racismo ambiental. O termo é usado para descrever situações de injustiça social no meio ambiental em contexto racializado. “O clima está na minha ancestralidade, nas técnicas que aprendi quando criança com minha avó, nos remédios caseiros que ela fazia para nos curar e até na culinária ancestral. Falar sobre clima é essencial para nós que vivemos na base da sociedade, pois já estamos sendo afetados pelos efeitos da crise climática. Precisamos nos conscientizar de forma crítica e entender quem e como cobrar”, explica Luan.
Hoje, Luan é estudante de relações internacionais da UFRJ e um dos ativistas nacionais do Engajamundo, uma organização de jovens que aproximam as decisões políticas do dia-a-dia através de incidência e mobilização.
Através de seu trabalho de conscientizador ambiental, Luan foi convidado para ser um dos representantes do Rio de Janeiro no Summit Anual of Global Shapers 2024. O Global Shapers é uma iniciativa do Fórum Econômico Mundial que visa incentivar jovens líderes a serem agentes de mudança em suas comunidades. Durante o evento, Luan teve a oportunidade de desenvolver uma compreensão profunda da comunidade Global Shapers, além de explorar habilidades e ser capacitado para causar impacto a nível territorial. Este espaço também permitiu que ele e outros jovens líderes desenvolvessem iniciativas coletivas para promover mudanças sociais globais e locais.
Ele conta que o que levou ele até esta conquista foi a vontade de mudar a realidade e explica que a população já está sofrendo os efeitos da crise climática. “O Rio de Janeiro inunda quando chove, famílias estão perdendo suas casas, suas vidas. O calor está cada vez mais extremo, nossa vida terrestre e marinha está morrendo. Precisamos conscientizar nossas periferias, favelas e quilombolas e entender como reduzir os impactos negativos disso tudo. Precisamos saber como cobrar o poder público para a criação efetiva de políticas públicas socioambientais”. Luan acredita que precisa mostrar para o mundo que a juventude não é só o futuro, é também o presente. “Não dá mais pra esperar e deixar para resolver os problemas ambientais em 2050, estamos passando por eles agora”, completa o ativista.
O Global Shapers aconteceu em Genebra, do dia 10 a 12 de julho, e Luan conta que foi uma experiência inesquecível. “Chegar em Genebra, representando o Rio de Janeiro, e poder debater sobre impacto socioambiental usando nossas organizações de base como exemplo é incrível. Isso mostra que o Brasil está na vanguarda quando se fala de impacto”. Ele reforça que durante estes anos de trabalho com impacto socioambiental, ele pode conhecer muitas pessoas que já transformam a realidade de seus territórios e ele quer fazer o mesmo. “Quero ajudar a construir um futuro possível com pessoas comprometidas com o bem-estar da sociedade civil. Lutar, para mim, significa partir do coletivo”.