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Justiça climática é o direito ao hoje, enquanto construímos um amanhã

Líderes têm caminhado lentamente para entender o quanto a crise climática e sanitária são fenômenos de violências estruturais contra povos e comunidades
Foto: Jane Barlow/PA
Foto: Jane Barlow/PA

Por: Vários autores para PerifaConnection, na Folha de S.Paulo

O mundo está com os olhos voltados para a COP26. A conferência que reúne líderes globais para tratar de um assunto de extrema importância: a emergência climática que vivemos.

Tal emergência não se dá apenas pelo contexto ambiental. Ela parte da nossa relação com o meio ambiente e se refletem em estruturas sociais e que perpetuam por toda a sociedade. As disputas na nossa política, economia, saúde, educação e em tantas outras correlações que dialogam com o tema se dão a partir dos territórios e das comunidades que habitam nele.

Este fato deixa evidente que a justiça climática não é uma questão para o futuro, mas, sim, sobre como se configuram como estruturas que nos possibilitam existir no presente.

Há uma exploração histórica da terra que nos levou até onde estamos hoje. Essa situação tem os direitos básicos comprometidos a uma vida digna, como a terra, uma moradia, a educação e a alimentação de muitos. Por outro lado, há acumulação de riqueza de poucos.

De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), todas ações humanas realizadas até agora já são consideradas irreversíveis.

Marcha por justiça climática crítica omissão de líderes
Foto: Reprodução

Precisamos pensar para além dos números, quem são as pessoas e áreas que estão sendo mais atingidas por essas mudanças.

Transformar a COP26 em um espaço de participação política dessas comunidades, mas também onde podemos construir outras soluções possíveis e baseadas em nossos direitos e necessidades.

A proposição de ação climática, por meio de mercados de carbono, funciona apenas para permitir que os mesmos Estados responsáveis ​​pela crise climática sigam emitindo às custas dos países em desenvolvimento, destruídas históricas de uma exploração colonial de seus recursos.

Em meio a um contexto nacional sem representações oficiais, as juventudes brasileiras assumem um protagonismo histórico e comparativamente maior na COP26 em relação a edições passadas. Eles se efetivam agentes efetivos da transformação socioambiental no Brasil.

Nosso país viveu momentos de protagonismo e avanços na agenda ambiental no passado, mas necessita radicalizar sua ação com urgência.

Precisamos tirar do papel metas de ambição climática para superar a inércia na corrida para zero emissão de carbono e redução drástica dos níveis de desmatamento de nossas florestas e reservas de proteção ambiental.

Dessa forma, o Brasil vai recuperar seu protagonismo na ação climática, desafio à altura do potencial e grandeza de nosso país.

Os líderes têm caminhado a passos lentos para entender o quanto a crise climática e sanitária são fenômenos disparadores que escancaram como violências anteriores contra vários povos e comunidades de nosso país, particularmente às comunidades negras, indígenas e quilombolas.

Torna-se fundamental que os esforços de mitigação e adaptação climática cheguem principalmente a essas comunidades e uma maneira de demandarmos enquanto sociedade civil essas ações, é por meio da organização e criação de agendas de forma comunitária.

Citando como exemplo a pandemia que vivemos atualmente e não sabemos até quando perdurará, podemos observar que essa crise sanitária tem afetado intensamente esses grupos mais sensibilizados.

Precisamos nos atentar para o surgimento de novas doenças, como a Covid-19, e de eventos climáticos cada vez mais desastrosos e severos e que já são frutos do desequilíbrio da biodiversidade nativa e do consumo em larga escala e exagerado de recursos e vidas.

Assim como a atual pandemia, esses fenômenos afetam principalmente quem vive nas periferias urbanas e comunidades locais. Com isso, mais do que nunca importa perguntar: qual será o legado das gerações passadas?

Não há mais espaço para negacionismo! Da mesma forma, se as soluções não principais pensadas e construídas nas estruturas que fazem o hoje, o amanhã será apenas um colonialismo atualizado, mudando apenas a maneira de exploração e como o genocídio e ecocídio se manifestam.

Marcelo. Rocha
Diretor executivo no Instituto Ayíka e ativista no movimento Fridays for Future Brasil

Aíla Marinho
Coordenadora Nacional pelo Brasil na COY 16, pesquisadora em clima e juventude pelo PPGRI na UFBA e delegada pelo Instituto Ayíka na COP26

Alice Pataxó
Liderança indígena, ativista pelo clima e jornalista

Vitória Pinheiro
Diretora da Palmares Ponto Focal para América Latina e Caribe no UNMGCY

PerifaConnection, uma plataforma de disputa de narrativa das periferias, é feito por Raull Santiago, Wesley Teixeira, Salvino Oliveira, Jefferson Barbosa e Thuane Nascimento. Texto originalmente escrito para Folha de S. Paulo

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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