Por: Lúcia Xavier para a Folha de S.Paulo
Nossos passos vêm de longe. Herdeiras de um legado ancestral desde o continente africano, como mulheres negras lutam diariamente para a construção de um país justo e democrático.
Travamos as piores batalhas para nos mantermos vivas, com direitos ao nosso corpo, com autonomia e garantias fundamentais para o nosso desenvolvimento. Atuamos para a democracia brasileira, lutando contra o racismo patriarcal cisheteronormativo que resulta em mais discriminação, empobrecimento, violência e morte.
Nos negamos a viver em um Estado onde o racismo estrutura o modo de nascer, viver e morrer da maioria da população brasileira.
Buscamos melhorar a educação brasileira, lutamos para o acesso à educação em todos os níveis, mas também para a inclusão da história da África e dos afro-brasileiros no currículo escolar e do ensino superior.
Buscamos equidade e o fim do racismo institucional, especialmente no sistema de saúde, política fundamental para a garantia da vida que nos é negada todos os dias. Vidas essas ceifadas pela violência, especialmente pelo Estado, que nos deixa de luto e em luta contra o genocídio da população negra. Por isso, atuamos para a construção de sistemas justos.
Ao participar da construção da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra para consolidar o direito à vida sem racismos, consolidamos a saúde sexual e a massa reprodutiva contra a esterilização, a morte materna, os agravos em saúde e o controle dos nossos corpos também. Consolidando a dependência dos direitos humanos, pois não a saúde familiar sem direitos ambientais, ambientais, culturais, civis e políticos, como prega a saúde doméstica.
Por isso, não antecipamos nenhum debate sobre a prevenção e controle do HIV/Aids, no Zika vírus, sempre refletir a realidade das mulheres buscando em sua totalidade, incluindo as mulheres lésbicas e transexuais.
Um dos resultados foi a publicação do ” Livro da Saúde da Mulher Negra: Nossos Passos Chegam de Longe” , organizado por Jurema Werneck e outras parceiras. Até hoje, o livro é uma referência nesse campo e para o movimento de mulheres negras.
Assim como as nossas ações de intervenção urbana – conceito que remetem a políticas femininas, lideranças femininas que seguem por todas as partes e ações de entrada nos espaços de decisão para que as nossas vozes sejam ouvidas e os nossos direitos sejam ouvidos. Nós também queremos compartilhar do dia a dia e do futuro de nosso país.
Produzimos culturas, artes, ciência, conhecimentos que são aviltados, invisibilizados, roubados. Mas o patrimônio das mulheres negras está à disposição para a construção de um mundo melhor.
Como todas as lutas, ao movermos as estruturas também ampliamos os direitos e as políticas públicas para todos.
Criola completa hoje 30 anos. Somos o resultado da trajetória política das mulheres negras em busca de justiça , poder e direitos. Somos que são compatíveis para toda a humanidade um legado de concepções de viver constituído de acolhimento, cuidado, cuidado e amor.
Somos também aqueles que se recusam a viver como opressões e isolamento político de uma sociedade que nos faz mais pobres, que nos é violenta, que nos invisibiliza. Somos as prostitutas, as catadoras, as professoras, as médicas, as cientistas, as costureiras, as costureiras, as babás agricultoras, as lavadeiras, as pescadoras, as cozinheiras, as intelectuais…
Nas três décadas de existência de Criola, nos inspiramos nessas mulheres que ousaram vislumbrar a vida e romper com a submissão. Nos dedicamos à defesa e a garantia de uma vida digna para as mulheres e para a nossa comunidade. Ampliamos e alargamos os nossos direitos. Criamos políticas e pontes seguras para o equânime em uma sociedade, cuja sociedade padrão é constitua nas concepções do Bem Viver pelas negras.
Lúcia Xavier
coordenadora geral de Criola
PerifaConnection, uma plataforma de disputa de narrativa das periferias, é feito por Raull Santiago, Wesley Teixeira, Salvino Oliveira, Jefferson Barbosa e Thuane Nascimento. Texto originalmente escrito para Folha de S. Paulo