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O mês de julho tem como grande marco o início das Olimpíadas de Tóquio, no Japão. Representando as favelas do Rio de Janeiro, teremos o timoneiro Jucelino Silva, cria da comunidade da Vila Kennedy, Zona Oeste do Rio, que foi convocado para defender o Brasil nos Jogos Paralímpicos em agosto.
Após o adiamento no ano passado por conta da Covid-19, os jogos olímpicos e paraolímpicos de Tóquio, capital do Japão, vão acontecer. Mesmo ainda vivendo sob a pandemia, a chegada de vacinas contra o vírus abriu condições para a realização das olimpíadas.
A trajetória de Jucelino até chegar ao Japão não foi nada fácil. Como ele mesmo fala, “tinha tudo para dar errado”. Mas o foco e determinação de ser uma atleta falaram mais alto. O esportista fala das dificuldades encontradas no caminho, sendo morador de comunidade, desde perda de colegas para a vida do crime, violência, até dificuldades de locomoção para os treinos. Mas, apesar de tudo isso, optou pelo esporte.
“Não tenho dúvida de que fui um cara escolhido para dar certo na vida. Sobre as dificuldades, sendo morador de favela, acredito que ela está na grande maioria dos esportes. Também a violência nas favelas. Já saí algumas vezes em intervalos de tiroteios, chuva e etc. Fora a longa viagem de quase uma hora e meia”, relatou Juscelino. O esporte que é praticado na Lagoa Rodrigo de Freitas, Zona Sul da cidade, é uma das 4 categorias de remo paraolímpico.
Além de todos os contratempos da vida, a história de superação começou ainda cedo. Sua mãe ainda gestante veio para o Rio fugindo da violência doméstica que sofria por parte do marido. Aqui trabalhou como doméstica. Sem condições financeiras de criar o filho, matriculou ele num colégio interno, onde passou parte da infância e da adolescência.
Na juventude Jucelino já morava por conta própria, porque a mãe foi trabalhar com os patrões dela na Alemanha. Com isso, ele precisou trabalhar como office boy no Clube de Regatas do Flamengo, na Gávea. Aos 19 anos foi demitido pelo clube, mas retornou como ajudante do treinador de remo Guilherme Augusto do Eirado Silva, o Buck, primeira pessoa a dar uma oportunidade (e assistência) a ele no clube. Durante este período, só ia para casa na Vila Kennedy após o fim de semana. Pois, pouco tempo depois, ganhou uma bolsa de estudos e começou a competir. Fazia dupla jornada, trabalhando num laboratório de análises clínicas perto do clube (o que facilitava conciliar empego e estudo com o treinamento).
Jucelino, conhecido também como Birigui, atualmente integra uma equipe composta por mais quatro remadores. E comenta, a seguir, o orgulho de estar representando a favela no evento mais importante do esporte mundial. “Representar meu bairro, comunidade, pra mim é uma grande honra e privilégio. E o sentimento é de pura gratidão por tudo que passei e passo. E também uma maneira honrosa de agradecer a todos da comunidade que sempre torceram por mim e me ajudaram de alguma forma, seja ela a mais simples”, comentou o atleta.
É a terceira participação do Brasil nesta categoria nos Jogos Paralímpicos e a primeira do atleta carioca da Vila Kennedy. A equipe conquistou a última vaga disponível para os jogos numa competição na Itália, no início de junho. Na função de timoneiro, cabe a ele dar a direção do barco, já que é o único que vê o destino da embarcação. Os remadores competem de costas, o que faz dele o comandante da prova. Entre 1995/1996 ele foi campeão do Troféu Brasil de remo sênior. Entre outros campeonatos brasileiros entre os anos de 2000 e 2010 pelo Flamengo.
Integrante da Seleção Brasileira de Remo desde 2000, entrou para a equipe paralímpica em 2013. Como participante da paraolimpíada, terá direito à bolsa atleta com validade até a realização dos próximos jogos, que ocorrerá daqui a quatro anos.
Jucelino conta com alegria sobre a concretização de um sonho, que foi chegar até os jogos olímpicos. E deixa uma mensagem para outros atletas de favela que estão nesta jornada. “O recado que deixo é o seguinte: que acreditem e se possível apoiem sempre no sonho, de qualquer jovem, seja o jovem ou a jovem quem for, se o sonho for pro bem valeu muito o apoio. Falo isso com total convicção, pois fui muito apoiado por muitos que acreditaram em mim. Por acreditar que assim podemos aliviar e dar também um pouco de alegria e um futuro melhor para muitos jovens”.
Nesta reta final, o grupo está se preparando para unificar os treinos em São Paulo. Até lá, cada um segue preparando-se isoladamente no seu clube de origem. Jucelino treina no Clube de Regatas Guanabara. O embarque para o Japão está programado para 8 de agosto, mês que começam os Jogos Paraolímpicos.