“Vida próspera aos que dançam nas margens”, diz o pixo em dourado de Aline Peres na parede do Galpão Bela Maré. A profecia é parte da exposição ‘Pista Ritmo Fluxo’, que abraça o visitante em uma imersão artística multilinguagem. A mostra é gratuita e acontece até o dia 15 de outubro, com visitação de terça-feira a sábado, das 10h às 18h.
Composta por trabalhos dos artistas que fazem parte da residência-formativa deste ano da Escola Livre de Artes (ELÃ), a mostra traz obras em diversos formatos e técnicas, como pinturas, fotografias e instalações. Dessa vez, a escola baseou a formação dos artistas na potência estética dos bailes, abordando tanto aspectos culturais quanto políticos.
“Somos uma instituição de arte localizada em uma favela, onde estamos produzindo e pensando arte contemporânea brasileira”, pontua o curador do Galpão Bela Maré, Jean Carlos Azuos.
O curador explica que a exposição pauta pista, fluxo e fluxo como conceito, pensando a realidade das ruas, avenidas, pistas de dança, bailes e encontros. “É um conceito que partilha desses universos, que são muito ordinários, das presenças artísticas que compõem a turma. São 15 artistas de diferentes geografias – entre periferias e favelas – que circulam por diversas e distintas pistas, ritmos e fluxos“, defende.
Uma dessas artistas é Melissa de Oliveira, de 23 anos, cria do Morro do Dendê, na Ilha do Governador. Ela iniciou na fotografia em 2019, mas na mostra arriscou outras formas de arte. A artista expõe um painel de 2 metros com 570 embalagens de água oxigenada, que demorou uma semana para finalizar, conta.
Além do painel, uma camiseta cuja arte diz “estamos vivos e não queremos deixar saudade agora”. Nessa camiseta, a foto da foto: ela e seus crias posando na frente de uma fotografia de um outro cria com o cabelo descolorido. Atrás, um trecho cantado por MC Poze do Rodo, na música “Sonho dos Crias”.
“Meus registros na maioria das vezes dentro do universo das barbearias, do corte da cabelo, da descoloração”, explica Melissa, que também ressalta que sempre andou mais com os meninos por identificação. “Eu sou uma menina que não performa feminilidade, gosto de cortar o cabelo disfarçado igual os meninos, descolorir igual os meninos, usar roupas esportivas igual os meninos…”, reflete.
Ao passear pela exposição, que está distribuída em todo o espaço do galpão, é possível perceber as diferentes referências e trânsitos, que se encontram em uma espécie de intercâmbio das artes, de Agatha Maria, Aline Peres, Bruno Lyfe, Ciana, Guilherme Kid, Idra Maria, Joelington Rios, Malvo, Mapô, Mayra, Myllena Araujo, Preta QueenB Rull, Roberta Holiday e Tainan Cabral.
ELÃ
Iniciada em 2019, a ELÃ – Escola Livre de Artes é um experimento artístico-pedagógico para artistas oriundas/es/os de favelas e periferias. O programa de residência-formativa conta com encontros presenciais mediados por artistas, curadoras/es, educadoras/es entre outras/es/os agentes do campo da arte e da cultura. Ao final dos encontros, os resultados do processo constituem uma exposição que fica aberta ao público no Galpão Bela Maré.
A ELÃ é apresentada pelo Ministério da Cultura e Observatório de Favelas. Tem patrocínio do Instituto Cultural Vale, Itaú Unibanco e White Martins, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Apoio Institucional: Itaú Cultural e Instituto JCA. Apoio: Samambaia.org. Parceria: Produtora Automatica Realização: Observatório de Favelas e Ministério da Cultura, Governo Federal.