No Brasil, quase 40 milhões de pessoas não têm acesso à internet. Uma quantidade que corresponde a pouco mais de 500 maracanãs lotados. De acordo com o Instituto Locomotiva, 43% dos moradores de favelas não possuem internet de qualidade. E, entre eles, há uma parcela que não tem nenhum sinal de rede móvel. Em 2009, o projeto Rio Estado Digital, do governo do Rio de Janeiro, foi implementado para mudar essa realidade. Mas não foi o que aconteceu.
O objetivo da iniciativa era levar internet gratuita para pontos específicos, o que englobava algumas comunidades. No início, o serviço até chegou a funcionar. “Quebrava o maior galho. Quando chegava da escola e tinha que pesquisar alguma coisa, colocava o meu notebook velho, que a minha mãe tinha me dado, na janela e conseguia acessar a internet. Era a única forma de usar e eu usava muito. Era muito bom! Eu conseguia fazer os meus trabalhos, tudo direitinho”, contou Paula Eduarda, de 23 anos, empreendedora e moradora do Complexo do Alemão.
No entanto, havia reclamações. Uma reportagem do Voz das Comunidades de 2015 mostrou que o serviço nem sempre funcionava corretamente e que em muitos pontos da favela faltava o sinal. “A internet é uma ferramenta que possibilita os nossos trabalhos, os nossos corres, mas, infelizmente, não foi um projeto que contemplou a favela”, desabafou Nathalia Menezes, comunicadora de 33 anos, também moradora do Alemão.
Em 2017, o programa foi encerrado e até o momento nenhum projeto similar que se preocupe com a democratização do acesso à internet foi inaugurado pelo governo estadual. Em nota, a Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia e Inovação (SECTI) informou que “o projeto é antigo, de custo muito alto e foi descontinuado pela antiga gestão” e que “no momento, a SECTI investe em parcerias para a criação das smart cities”, que são cidades inteligentes que usam a tecnologia para resolver problemas urbanos.
O uso democrático da internet diminui a desigualdade social
Em um mundo conectado, ter uma rede móvel significa ter oportunidades. Foi o que constatou a pesquisa “Internet, empreendedorismo e redução da desigualdade”, do Instituto Locomotiva, publicada em agosto deste ano. Para se ter uma ideia, a internet aumenta em 26% a renda de pequenos empreendedores, um público que se expande cada vez mais nas favelas. Um outro dado interessante traz o contexto atual da Covid-19: por causa da pandemia, muita gente passou a receber renda através de aplicativos que não funcionam em modo off-line; cerca de 11,2 milhões de brasileiros.
Ainda há outras formas de utilizar a internet, que são voltadas para obtenção de informações sobre segurança. Nas redes sociais, principalmente no Facebook e no Twitter, é possível observar trocas de relatos entre moradores de favelas sobre situações que ocorrem nos seus territórios, como operações policiais e deslizamentos. Uma mensagem pode garantir a segurança de alguém, evitar uma tragédia e até salvar vidas. Portanto, ter internet gratuita e, principalmente, de qualidade pode também representar a garantia do direito ao exercício da cidadania.