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Ex-morador do Complexo do Alemão denuncia caso de racismo na Marinha

No dia 21 de Maio, Pedro Jorge, ex-cabo da Marinha, foi chamado de chimpanzé pelo João Ricardo, Capitão de Mar e Guerra
Pedro Jorge. Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Pedro Jorge nascido e criado no Morro do Sapo, Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio de Janeiro. Filho de merendeira e sapateiro, Pedro almejou a carreira militar para mudar de vida, e aos 19 anos ingressou na Marinha do Brasil, e representava motivo de orgulho da avó ter um neto marinheiro. No dia 21 de Maio, tudo mudou, o caso de racismo aconteceu dentro do seu ambiente de trabalho, Pedro foi afastado pela Marinha por motivos de saúde: “O que era pra ser perfeito, agora tá virando minha vida de cabeça pra baixo completamente, pra dormir é só a base de remédio”, desabafa a vítima de crime racial.

O apoio dos familiares e amigos tem ajudado ele a passar por este momento delicado: “Minha família tomou um baque, veio conversar comigo, me ajudou, me deu apoio em tudo, em si, me deu proteção, e fez uma andada de cabeça erguida, muita vez eu estava com vergonha. Mas foi o que eles me falaram, quem tem que ter este vergonha e ficar recuado é o comandante, não eu”, disse Pedro sobre o suporte que tem recebido dos seus entes queridos.

Ex-cabo conta sua trajetória dentro do órgão:

“Minha história na Marinha era muito boa, eu sou ex-militar, trabalhei durante oito anos, não tenho sequer nenhuma punição dentro da minha CR, sempre fui bem elogiado, não é atoa que eu fui promovido, eu era marinheiro, fui promovido a cabo, e nesse meio tempo eu comecei a assumir a pasta de saúde da Amazul (empresa pública que presta serviço de energia nuclear para a Marinha), no escritório Rio, minha vida estava andando perfeitamente”, relata o ex-militar sobre as funções que exercia.

Prestes a completar oito anos dentro da Marinha, faltando dois meses, um fato mudou tudo: “Ele [comandante João Ricardo Reis Lessa] me virou e falou assim, você tá sobre o olhar do meu chicote. Ali já era pra me ter feito a denúncia, mas eu não tinha força, até chegou o ponto dele me chamar de chimpanzé, que eu não consegui me controlar, não consegui responder. As pessoas que estavam em volta também tomaram um susto. Achava que ele não faria aquilo na minha frente. Todo mundo sabia que ele cometia racismo comigo, mas sempre não tinha provas concretas. Ficavam calados. Dessa vez ele me chamou de chimpanzé na frente de várias pessoas e que na hora eu fiquei sem resposta, depois eu repreendi, outras pessoas repreendiam. Ele veio pedir desculpa pelo ocorrido e disse que falou ironicamente brincando”, detalha o caso e a postura do comandante frente a acusação.

Justiça para Pedro Jorge

A impunidade e o aumento de casos de racismo registrados no Brasil, evidencia a ausência de justiça para as vítimas: “A gente vê no casos de negros sofrendo racismo em volta e não dá muitas vezes em nada. A gente vê o processo do nosso Vinícius A gente viu o tal próprio da Ludmila e muitas vezes não dá em nada, essa é a verdade. Eu espero que realmente que a nossa justiça brasileira caia severamente em cima desse comandante porque com certeza o que ele fez comigo ele fez com outras pessoas. Hoje eu já saí da marinha mas infelizmente eu estou à base de remédio. Um órgão que era para me proteger, que era para me resguardar, na verdade não senti essa proteção em relação a isso, então até a própria Amazul, onde que era outro órgão que trabalha para a Marinha, que estava vinculado, foi a mesma coisa”, mostra o ex-cabo como foi o processo da denúncia.

Continua a desdobrar os acontecimentos: “O comandante me causou esse dano, cometeu racismo, ele sendo meu chefe, eu relatei a todos os diretores da Amazul e ninguém veio me perguntar se eu estava bem, como é que eu estava, se precisava de um apoio, nada. Só depois que eu fiz o RO (Registro de Ocorrência), que começaram a se manifestar. Ele me chamou de chimpanzé, mas falou que chamou ironicamente, como você chama, um militar. Então, é crime recreativo, essa é a verdade? Não se chama ninguém de chimpanzé. Então, é crime recreativo, essa é a verdade? Acaba com a psicológico da pessoa brincando!”, indignado Pedro mostra o descaso dos órgãos envolvidos.

As sequelas são inúmeras, dentre elas, a saúde mental instável: “E até hoje eu tenho acompanhamento psicológico. Psicológico, remédio, me causou um dano muito e físico. E também pensava muito na minha família quando saiu a reportagem, eu não quis comentar pra ninguém, a minha família tomou um susto, todo mundo me ligando toda hora, mas graças ao psicólogo, ao pessoal da OBI, que é o diretor dos direitos humanos, o doutor Agripino, que saiu conversando comigo, eu tive forças pra realmente denunciar e fazer a reportagem”, informa o ex-cabo.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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