“Nós abrimos com a força dos pajés, porque nós estamos falando de um espaço espiritual. Aqui são cemitérios, são nossos parentes que estão enterrados aqui, e aí nós trouxemos o princípio”, a fala do Cacique Urutau mostra o respeito a ancestralidade. O encontro dos pajés, caciques, cacicas e lideranças indígenas abriu o IV COIREM na Aldeia Maraka’nã, na última sexta-feira (15) com um público de visitantes que superou a marca de 400 pessoas. Até o final do evento, que aconteceu na última terça-feira (19), mais de 3.000 pessoas passaram pelo local.
Na abertura do evento, reunidos a mesa estavam 7 personalidades dos povos originários de diferentes etnias brasileiras e internacionais, dentre elas: Guarajajas de Maranhão, Ashaninkas do Peru, Huni Kuni do Acre e Tupinambá. O evento contou com rezo, cantos, línguas nativas e a medicina indígena. O Cacique Urutau Guajajara da Aldeia Maraka’nã afirmou: “por estarmos há 40 a 50 mil anos no território perpetuando nossos saberes, línguas, espiritualidades e tradições, porque estamos vivos, nós existimos”.
E complementou: “O Brasil ainda está engatinhando na criação da Universidade Indígena. É a primeira vez que vem discutido no Ministério da Educação (MEC), a elaboração e o reconhecimento de uma Universidade Indígena e querem tirar a Maraka’nã [Aldeia]. Estamos há 20 anos, de forma autônoma, trazendo emendas de conhecimentos que não existe em nenhum lugar do país”, deixando o compromisso da educação pluriétnica e independente da Aldeia Maraka’nã.
O cacique Kahuwero Guajarara da Aldeia Maraka’nã e também aldeia Tekohaw de Brasília fala Guarani Guajarara e entende um pouco de português. Ele falou sobre a importância do reconhecimento dos saberes indígenas e a coletividade das causas sociais que eles movimentam: “E nós estamos aqui na luta, no Maracanã, esse território aqui pertence muito a nós e ao povo, aos de fora também, os parentes de outros lugares, e por isso, conseguir a demarcação para nós é muito importante para cuidar da nossa natureza e da nossa aldeia”, afirmou o cacique.
Marinete da Silva, mãe de Marielle Franco e da ministra Ministra da Igualdade Racial do Brasil, Anielle Franco, fez questão de comparecer à Aldeia Maraka’nã. “É bom ver esse povo que luta por um território sagrado que é o indígena. Então, conhecer, participar dessa comemoração, essa abertura com esses Pajés. Dancei, cantei, me senti super acolhida”. Segundo a Marinete, os indígenas da Aldeia Maraka’nã vivem com essa insegurança da falta de demarcação de terra desde 2013. Atualmente, mais de 10 famílias vivem no local, totalizando quase 200 pessoas. “E dizer que quanto é importante eu estar, enquanto mãe da ex vereadora Marielle Franco, enquanto o Instituto Marielle Franco está aqui, para resistir também. Eles lutam por terra e também por justiça digna pra eles, então é importante”, elaborou.
Com a celebração desse movimento teve roda de Maraká Pininkatu com Urutau Guajajara e o Coral Aldeia Maraka’nã, com representantes de vários estados, Maranhão, Brasília e Rio de Janeiro.
Puxando cantos e danças na língua Ze’egete. A programação continuou ao longo do dia com Cinema Indígena, Slam Sereno, feira de artes indígenas, Show da Kae Guajajara, Exposição de Memórias Ancestrais da artista Mandacaru Karajá, medicina ancestral, grafismo, muita música e distribuição de refeição.
Comunicação e Produção
A equipe de comunicação é composta por aproximadamente 10 pessoas indígenas e um time de 60 voluntários contribuindo nas atividades e nas dinâmicas. A atriz e filmaker, Ywyzar Tentehar, disse sobre a importância de trabalhar na comunicação e na organização do IV COIREM: “é a primeira vez, mas tem se tornado fácil por estar todo mundo no mesmo barco, tá todo mundo se apoiando e se dividindo e fazendo tudo junto. Tem muita gente do meu povo aqui, eu dou esse suporte de conversar na língua e depois, a gente só faz a tradução pra postar nas redes sociais”, comenta sobre a experiência de estar trabalhando com os seus parentes.
A comunicadora e produtora Lisi Portiguara ressalta a importância do aprendizado, além do trabalho, pois há muita troca de conhecimento e cultura, pois tem muitos falantes da língua. A Mayra Guajarara, moradora da Aldeia Maraka’nã, complementou: “é muito importante trabalhar com os parentes, porque eu me sinto mais à vontade. Como diz o caraíu, eu não me sinto à vontade de trabalhar com os caraíus, que é o não indígena”, conta a indígena Mayra.
Foto: Leticia Gonçalves/Voz das Comunidades
A programação foi até o dia 19 de Novembro, de forma totalmente gratuita. Para acompanhar as atividades da Aldeia Maraka’nã, basta acessar o Instagram @tekohawmarakana. O site coirem.org também conta com informações sobre as atividades ocorridas no evento.