Uma característica presente na favela é o movimento. Desde o sobe e desce das motos e kombis, as pessoas andando nas ruas, até a entrega dos jornais pelo CPX. Movimento é também o que caracteriza Alan Brum Pinheiro, nosso entrevistado de 55 anos, cria do CPX, que ainda é um jovem inquieto com gana por se expressar e deixar sua marca no mundo.
Com o olhar radiante de quem tem sempre uma boa lembrança e história para contar, gesticulando rapidamente com os braços abertos e em alto e bom tom, ele diz. “Não é nem sobre verdade e mentira, tem mais a ver com qual ótica você escolhe contar uma história”, afirma explicando sobre os caminhos que o levaram a se tornar uma das principais referências quando se fala em pesquisa sobre o CPX. Ele conta que a insaciável vontade de aprender e os questionamentos sobre os métodos de pesquisa usados na faculdade fizeram com que ele resolvesse trazer um outro olhar para a realidade, falando de dentro da favela com ela sendo protagonista. Indo na raiz das questões mostrando assim a realidade.
As diversas profissões de Alan deram a ele bagagem suficiente para pôr em prática os projetos que tinha em mente. Trabalhou como operador de copiadora, promotor de vendas, repositor, garçom e supervisor. Tudo isso o levou para os caminhos da comunicação com uma paixão pela publicidade. Mas foi nas ciências sociais que fez carreira. Além disso, também foi professor. Esta última função se tornou um apelido que muitos chamam e poucos sabem de onde surgiu. Acontece que Alan deu aulas na associação de moradores da Grota.
E esse movimento fez ele criar raízes e fundar junto com um grupo de amigos, alunos e crias do CPX, o Instituto Raízes em Movimento. Além de dedicado ao trabalho, Alan também é pai de dois filhos, avô de cinco netos e ligado à família. Ele conta que, assim como na sua vida, não separa os amigos dos colegas de trabalho, e na família não separa os netos que são “de um ou de outro”. Os netos são de todos. No seu dia a dia o método “Alan de ser” funciona assim: De vez em quando faz uma reunião num bar, ao mesmo tempo conversa com os vizinhos do CPX, e observa o cotidiano da favela. Não se admire se de uma reunião ele viajar direto para uma aldeia no interior do norte do país. Aliás, é o que mais gosta de fazer para se divertir, além da cervejinha e acampar. Essa liberdade que vive é fruto de muito autoconhecimento adquirido ao longo do tempo.
Apesar de tudo que já construiu nos mais de vinte anos à frente do Raízes em Movimentos, sendo um dos líderes da importante pesquisa que formou o Plano de Ação do CPX, e que trouxe o IFRJ para o Alemão, Alan não possui ambições de bens materiais e de construir riquezas. Gosta de levar a vida com simplicidade e talvez esse seja o seu segredo. Refletindo sobre o que é a verdade, na provocação entre “verdade e mentira”, ele explica que existem várias, e que as pessoas gostam de produzir as suas. Mas que para além de saber sobre a verdade das coisas, vale mais “Encontrar o que é a verdade em você”. Finaliza Alan. Ser verdadeiro consigo e assim viver plenamente.