Kátia Regina, de 56 anos de idade, é dona de casa e mora no Complexo do Alemão desde 1999. Quando se mudou, conseguiu uma casa bela, com sala, três quartos, cozinha e banheiro. Até 2023, o Complexo do Alemão cresceu, envelheceu, e a casa de Kátia passou por esse mesmo processo. Atualmente, infelizmente, a estrutura da residência se encontra em uma situação crítica, com sério risco de desabamento.
A equipe do Voz das Comunidades teve acesso à casa de Kátia quando vídeos chegaram em um dos grupos de WhatsApp de moradores. Moradora da Rua da União, na região do Capão, Kátia nos recebeu em seu lar numa sexta-feira muito quente. Quando entramos, ela já mostrou os problemas da estrutura. “Eu durmo aqui na sala, mas já tem infiltração aqui nessa parte”, diz ela ao apontar para o teto. Para quem entra, no canto esquerdo do cômodo, Kátia dorme em um sofá, próximo a TV. Do outro lado, tem algumas plantas que ela mesma colocou para que tomassem a água das goteiras do teto. Adentrando a casa, ela vai mostrando o teto com fissuras causadas pela ação da água e do tempo. No primeiro quarto, encontramos uma menina deitada em um colchão, esticado sob uma estrutura de concreto. É sua filha Karla, de 32 anos, que tem autismo e 94% de perda auditiva. “Ela não fala e nem ouve”, relata Kátia, alisando o braço da filha, que presta atenção na gente. Kátia nos guia pela casa, até chegarmos no terceiro quarto, que foi desocupado por segurança da própria família. A única coisa que está no cômodo é uma estaca de madeira que segura o teto para não cair. “Mas ela (a madeira) já está cedendo também por conta da água do esgoto que vem lá de cima. Aqui é muito úmido”. Neste mesmo quarto, no canto, um pano encharcado segura o que desce de água de esgoto da parte mais alta do Capão. Descendo dentre as casas, todo o lixo e o esgoto acaba escorrendo atrás da casa da moradora. Com o acúmulo, a água invade o quarto da casa. “Quando chove, fico desesperada. Quando me mudei pra cá, a casa encheu d’água no primeiro mês. Já pensei em vender aqui, mas isso seria apenas empurrar o problema para alguém. É uma tragédia anunciada”. O banheiro da casa também tem problemas de infiltração. Um limo verde já cresce bem no box, em cima do chuveiro da família.
Kátia ganha um benefício social que não cobre totalmente os custos da família. Com o quadro dependente da filha, ela faz o acompanhamento dela 24 horas por dia, ficando impossibilitada de trabalhar. “Um dos filhos, o CPF da Karla foi cancelado por ela ter esse quadro dependente. Eu sou representante dela e não consegui fazer empréstimo consignado. Temos a ajuda do pai dela, mas infelizmente não é o suficiente. Não posso trabalhar porque minha filha depende de mim pra tudo.” Além de Karla, Kátia tem mais dois filhos, Lucas da Silva, de 26 anos, e Yan da Silva, de 25. Ambos foram diagnosticados com quadro de depressão, após a separação dos pais.
Problema compartilhado
Mesmo se encontrando em uma situação complicada, Kátia procura compartilhar ajuda que recebe, principalmente com Maria da Glória, sua vizinha, com que compartilha o mesmo problema.
Maria da Glória, de 77 anos, reside na casa ao lado de Kátia. Morando com a neta, que é deficiente, Maria diz que sempre tem que pagar alguém para limpar o lixo que acumula da chuva. “Da última vez que paguei, ele não limparam tudo. Aí ficou bem crítico. Ainda mais com essas chuvas fortes que deu”, conta.
(Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades)
O esgoto que desce da região mais alta do Capão acaba finalizando entre as casas de ambas. O lodo que fica deixa o ambiente propenso para proliferação de pragas, além de ser um problema sério de saúde pública. Quando chove, a água desce com força e acaba invadindo o terreno das donas de casa.
(Fotos: Selma Souza / Voz das Comunidades)