Para todos os estudantes da cidade do Rio de Janeiro, o mês de fevereiro marcou o retorno presencial das atividades escolares. Contudo, em meio a essa retomada, após dois anos longe dos centros de ensino, diversos alunos relatam uma maior dificuldade na concentração, no convívio com outras pessoas. E, principalmente, na capacidade de aprendizado pelo processo de estudos interrompido durante a pandemia do coronavírus no Brasil.
Nas comunidades cariocas, esse cenário se tornou ainda mais prejudicial para boa parte dos jovens. Pois, diferente das outras localidades, muitos não tiveram um acesso de qualidade no formato à distância. E, em alguns casos, nem contaram com essa modalidade por diversos motivos. Entre eles, a falta de sinal de internet e de aparelhos eletrônicos que permitam essa conexão. Essas dificuldades listadas fizeram parte da rotina de Raissa Martins, de 18 anos, que está no terceiro ano do Ensino Médio.
Moradora do alto Alemão e estudante do Colégio Estadual Jornalista Tim Lopes, ela revela que esse período distante da escola afetou o desenvolvimento pessoal dos alunos por não possuírem o contato frequente com outros jovens e ainda evidenciou as dificuldades já existentes de aprendizado. E, em razão disso, a jovem busca opções de reforço escolar e de pré-vestibular para recuperar o “tempo perdido”.
“Sendo bem sincera, eu tenho muito problema com física e matemática desde sempre. Então, esses dois anos sem um ensino frequente, me prejudicou demais. E, a situação piora pois esse ano tenho que fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Acredito que é um momento que mudará totalmente a minha vida. Por isso, vou atrás de um pré-vestibular e cursinho”, aponta.
Nesta perspectiva de atender as demandas dos jovens estudantes nas comunidades cariocas, a ONG Centro de Educação Multicultural (CEM) expande as possibilidades de aprendizado na Terra Prometida, localidade do Complexo da Penha, Zona Norte do Rio de Janeiro. No comando de Marcelo Correia, de 57 anos, Ana Correia, de 60 anos, e da professora voluntária Daniela Joyce, de 24 anos, os alunos do projeto recapitulam os conhecimentos das matérias tradicionais e, também, exploram as noções da agroecologia; como o plantio da terra, a importância da segurança alimentar, o uso consciente da energia e do consumo de água e muito mais.
“Claro, o nosso reforço escolar é direcionado para as demandas do ensino padrão, como as áreas de ciências humanas, de exatas e sociais. Porém, aqui, a gente entende a necessidade de olhar para a educação como uma forma de achar mecanismos de transformar a relação que temos com o meio ambiente. Gosto de definir que lecionamos agroecologia na ONG”, define Marcelo.
Marcelo, que atua na CEM há dez anos, explica que a pandemia trouxe dificuldades de concentração para os alunos, pois restringiu o convívio entre os jovens. Para ele, esse encontro presencial facilita a troca de experiências, o desenvolvimento coletivo e, também, facilita o aprendizado entre eles. “Essa convivência entre eles é essencial para o aprendizado”, comenta. Além disso, o educador ressalta que os efeitos da pandemia e o crescimento da desigualdade socioeducacional não serão sentidos imediatamente, mas sim, nos próximos anos.