Foto: Vilma Ribeiro / Voz das Comunidades
A pandemia da Covid-19 mudou a vida da sociedade atual. Os protocolos de saúde transformaram a rotina que se tinha antes. As medidas restritivas de isolamento social fizeram com que a prática do teletrabalho ou do ensino a distância fosse normalizada, principalmente para alunos e professores. Quando se é morador de favela, os desafios de trabalhar em casa se intensificam. A ausência de uma internet de qualidade, um local adequado, os problemas externos da comunidade – como a violência ou sons altos vindos da casa ao lado – são exemplos desses desafios que afetam também professores.
Muito se sabe e discute sobre as dificuldades enfrentadas por alunos nesta pandemia. Mas pouco se fala dos problemas enfrentados pelos profissionais de educação, que também são moradores de favela. Como o pedagogo Diogo Lima, de 28 anos, e a professora Anna Carolina Saraiva, de 19. Ambos são crias de favelas da Zona Norte do Rio e atravessaram a pandemia exercendo a profissão de educador.
Realidade de quem ensina
Diogo é morador da localidade da Área 5 no Complexo do Alemão e explica como foi seu desafio nesse período. “Consegui ter a produtividade de fazer o meu trabalho, só que não era algo perfeito. Não tem como dar uma aula tranquila, corrigir uma prova com tiro na minha porta. Já ocorreu um tiroteio na minha rua e precisei me esconder em horário de aula. Isso resvala no nosso trabalho, essa insegurança, esse medo”.
Educador do Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE), instituição que integra jovens ao mercado de trabalho, Diogo se empenha na integração de alunos com o primeiro emprego, além dos desafios diários para exercer a profissão remotamente, e tem também saudades de estar com os alunos. “Acaba sendo um contato frio, passo as atividades por email e as explicações por áudio através do grupo de WhatsApp. Mas às vezes nem áudio dá para mandar por conta do barulho externo. Contudo, não vou desistir dos meus jovens, as pessoas têm uma imagem que o professor tem que ser perfeito, mas ele não é, ele é ser humano também”, complementou Diogo. A realidade do professor é a mesma de outros alunos que também são moradores de favela e fazem parte do CIEE.
O sonho de lecionar
A jovem Carolina Saraiva é aluna de pedagogia da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) e moradora da Merendiba no Complexo da Penha. Diferentemente de Diogo, iniciou sua trajetória como professora atuando em um pré-vestibular social on-line já na pandemia. Com isso, não teve aquele primeiro contato com o convívio dentro da sala de aula. “Como tive boas notas no Enem em 2019, fui chamada para dar aulas em um pré-vestibular on-line gratuito e foi uma experiência muito diferente. Eu virei professora justamente por ser apaixonada pela sala de aula. No on-line, são outros desafios, você tem que prender aquele aluno ali, mas não vê se ele está interagindo”. Assim como Carolina, os alunos também compartilhavam desta realidade difícil, que é o ensino à distância.
A professora destaca como este sonho de ser educadora serve de combustível para não desistir. “Se não fosse meu sonho, eu não estaria aqui, começar desta forma tão difícil. Mas ser professora é ter certeza que seu legado não morre, ele fica na vida dos alunos”. Após seu trabalho no pré-vestibular social, Carolina foi contratada para ser professora da rede Pensi de ensino.
Volta às aulas na rede pública
Com o avanço das vacinações haverá aumento da carga horária da rede municipal de Ensino do Rio. Segundo o secretário municipal de Educação Renan Ferreirinha, a carga horária presencial oferecida pela rede carioca a partir da semana do dia 21 estará se aproximando da praticada antes da pandemia. Com isso, a carga horária presencial por semana vai passar de 15 horas para 20 horas nas unidades com dois turnos. O aumento será maior nas escolas de turno único, que representam cerca de 30% da rede. Essas unidades passarão a ter 30 horas presenciais por semana. De acordo com a Secretaria de Educação, 96% das escolas estão abertas realizando ensino presencial de maneira reduzida.