Luís Fernando Rego é bailarino internacional. Essa frase é, desde os 12 anos do menino nascido e criado no Complexo do Alemão, um sonho. Dele e da mãe, Tânia. Com seus 23 anos, o sonho virou afirmação: ele conseguiu. Cria do Vidançar, passou pelo Theatro Municipal do Rio de Janeiro, Escola do Teatro Bolshoi, em Joinville (SC), e até pela Dinamarca. Mas a meta sempre foram os Estados Unidos. Agora, Luís integra a companhia de balé Dance Theatre of Harlem, localizada na cidade de Nova York.
O menino que sonhava em superar barreiras e ultrapassar as fronteiras do Brasil hoje é mais uma referência para os meninos negros de favela que sonham com um futuro no balé. “Estou disposto a carregar isso comigo e disposto a inspirar ainda mais jovens, adultos e crianças que estão nesse mundo da arte. Assim como eu tive minhas referências quando estava começando, hoje me sinto feliz de estar sendo referência para outros que estão dando o primeiro passo”, diz Luís.
Aprovado na Dance Theatre of Harlem desde 2023, Luís não conseguiu prosseguir por conta de uma lesão no pé. Então, agora, já recuperado, entrou oficialmente na companhia. E reflete, já se sentindo inspirado pela sua nova casa: “É sempre bom saber que nós fazemos parte de algo bem maior que nós mesmos, como dizia Arthur Mitchell, fundador do Dance Theatre of Harlem”.
Para ele, ter alcançado o objetivo que carrega há mais de 10 anos tem o significado de dever cumprido. “Sinto que todo trabalho que foi feito lá no início foi necessário para que esse contrato viesse agora. Resiliência, responsabilidade e realização foram necessários para chegar até aqui.” O bailarino (internacional!) conta que seus próximos passos são expandir sua arte por toda a América do Norte. “E, com isso, poder ter mais visibilidade no meu país de origem, que é o Brasil.”
Quando dança, vive tudo aquilo que um dia não pôde viver. “Só quero sentir o calor de estar me movimentando em uma frequência inefável. Me alegro por me sentir vivo e presente no palco”, compartilha ele. O ex-morador do Complexo do Alemão, que carrega sua história com orgulho, vê um filme passando em sua cabeça quando está nos palcos.
“Eu sempre penso em tudo que eu já sofri nessa carreira, de tudo que já aconteceu comigo e tudo que me desanimou. Durante essas memórias eu sempre levo a minha dor com compaixão e resiliência. Isso me ajuda a crescer, estar feliz e forte fisicamente e psicologicamente”, finaliza.
Ellen Serra, fundadora do projeto Vidançar, o acompanha desde o início de sua trajetória na arte da dança. “Ele era um aluno brilhante! Na verdade, antes, ele era do surf. A gente tinha um espaço no Loteamento, onde o primeiro andar era o balé e o segundo, o surf. Ele levava a irmãzinha para a aula e ficava atrás da escada acompanhando a professora, levantando a perna. Nisso, nós vimos e o convidamos para fazer parte da turma, mas ele tinha muita vergonha. No início, dizia que fazia balé para se equilibrar em cima da prancha”, relembra.
“Desde então, ele sempre reverberou a vontade de ser bailarino internacional. Assim que começou com a gente, sempre falava isso. Eu o levei para Joinville para fazer a audição para o Bolshoi e, depois, ele passou para uma companhia dinamarquesa. Mas Luís sempre falava que iria para os Estados Unidos. E conseguiu!”