Colaboração: Jonas di Andrade
Yago Correa de Souza, 21 anos, estava participando de um churrasco no domingo do dia 6 de fevereiro. No meio daquela tarde, foi até a padaria comprar pão para um evento. Ao sair do estabalecimento, Yago encontrou uma confusão entre policiais e moradores. Ele correu e se escondeu dentro de uma farmácia. O jovem foi preso pela polícia portando um saco de pão.
Era 28 de fevereiro, segunda-feira de Carnaval no Rio de Janeiro. O tempo estava ensolarado e a praia de Ipanema estava lotada. Marcos Nascimento Tavares, 19 anos, estava caminhando pelo calçadão da praia quando foi abordado por policiais, acusado de ter roubado um celular. Ele foi levado para a delegacia. Ambos foram soltos 3 dias depois dos respectivos ocorridos, após uma audiência de custódia que constatou que eles não tinham nada a ver com as ocorrências.
É impossível fazer uma reflexão a respeito destes casos sem tocar na questão racial. Tanto Yago quanto Marcos, moradores de comunidades do Rio de Janeiro, são jovens negros e não possuem antecedentes criminais.
A chaga do racismo ainda permeia o cotidiano de milhares de pessoas, não só do Brasil como no mundo inteiro, principalmente quando estas são pessoas negras. Como esquecer que, em 2020, o movimento #BlackLivesMatter ganhou notoriedade mundial após a morte de George Floyd nos Estados Unidos. E, no mesmo ano, em Porto Alegre, João Alberto foi morto brutalmente em uma grande rede de supermercados (Carrefour).
Casos como esses se repetem diariamente e é expressivo ver o quanto a discriminação racial afeta a sociedade como um todo, manifestando-se de diferentes formas. O racismo estrutural é um sistema que molda as relações econômicas, jurídicas, políticas e sociais de diversas formas. Questões como salários menores, falta de direitos básicos, como senamento, educação, saúde, além da ausência de representatividade são uns dos muitos exemplos que impactam diretamente pessoas negras não só no Rio, mas no Brasil inteiro.
O combate contra o racismo é uma prática diária, mas a Organização das Nações Unidas (ONU) elegeu um dia para que essa luta seja valorizada. Foi instituído pela ONU como o Dia Internacional da Eliminação da Discriminação Racial. A data, 21 de março, foi escolhida em memórias às vítimas do chamado “Massacre de Sharpeville”, ocorrido na África do Sul durante o Apartheid, regime de segregação racial que afetou o país entre 1948 e 1989.
A advogada Dianduala Nguidi, a Karabbah, tem 28 anos e acompanha a comissões de direitos humanos e da mulher na OAB. Em sua fala, diz que, além do debate racial ser fundamental, é preciso pensar como o racismo estrutural impacta o cotidiano de pessoas negras na sociedade. “É o fator raça que está nos matando, que faz com que nós tenhamos maiores indíces de encarceramento de homens pretos no Rio de Janeiro, que faz com que muitos de nós não cheguem aos 30 anos, que faz com que ainda estejamos em subempregos. A gente enxerga isso e sabe que já passou da hora de mudarmos, nos posicionarmos e promovermos mudanças pragmáticas”.
No Rio de Janeiro, a iniciativa 21 dias de ativismo contra o racismo acontece desde 2017 e sempre traz atividades que promovem a luta contra a discriminação racial. Em 2022, a iniciativa traz uma programação recheada de atividades, presenciais e remotas, com mesas de debate, atividades culturais e oficinas, distribuídas por várias cidades do estado. 21 dias de ativismo contra o racismo começou no dia 5 de março e vai até o dia 25. A programação completa pode ser vista neste link.
A Luta pela Eliminação da Discriminação Racial é todo dia.