Desde cedo, Thai Flow transforma sonhos em rimas no Rap

Cria do Jacarezinho, mas moradora do Alemão, a artista conquistou novos horizontes através da música
Foto: Gabriel Carvalho/Divulgação
Foto: Gabriel Carvalho/Divulgação

Junto da firmeza de quem entende a arte como um processo de desenvolvimento e de autocuidado, Thainá Denicia, mais conhecida como Thai Flow, despeja nas linhas do estilo musical do Rap toda a potência de sua trajetória pessoal. Cria do Jacarezinho, mas moradora do Complexo do Alemão há cinco anos, a jovem artista de 23 anos conquistou novos horizontes através da cultura do Hip-Hop. Talentosa na vertente do estilo livre (freestyle) de rimas, a MC iniciou a carreira em batalhas de improviso, nas quais conquistou títulos e amigos.

“A minha carreira começou lá em 2015, em rodas de freestyle e nas batalhas de improviso contra outros MCs. Porém, o Rap sempre esteve presente na minha vida. Lá atrás, quando era uma criança na casa da minha família, o ritmo que mais tocava era o Hip-Hop, que meu pai amava”, explica. 

Porém, antes de se tornar uma artista e enfrentar diversas batalhas de improvisos de rimas pelo país, Thai Flow encarou a condição de conviver em situação de rua durante três meses após um desentendimento familiar e de um término de relacionamento na época. Nesta situação de vulnerabilidade social, mais uma vez o Rap foi uma companhia ativa de acolhimento, refúgio e libertação de sentimentos.

“Então, no meio dessa vivência de morar na rua, eu me conectei profundamente com o Rap, entende? Através da música, eu conseguia me expressar, me libertar, de ter voz e de ter novas possibilidades. Comecei a acompanhar frequentemente as batalhas entre MCs e, naquele tempo, virei fã da Negra Rê, uma das poucas artistas mulheres na época. Tinha muita raiva dentro de mim e o Rap me ajudou”.

Após a participação nessas competições, Thai Flow chamou atenção de artistas renomados dentro do cenário do Rap brasileiro, como o rapper Ber (Cartel dos MCs), que a indicou para uma gravadora internacional de música, a World Rap Music, da Suíça. Logo depois do seu ingresso na companhia, o passaporte da moradora do Alemão ganhou novos carimbos de países da Europa. 

“Depois, em 2018, participei do Slam (rodas de poesias faladas) no Rio de Janeiro e em São Paulo. E, em novembro daquele ano, comecei a profissionalizar mais o meu lado artístico, assinando o meu primeiro contrato com a World Rap Music após indicação do Ber, que conheci nos rolês de Rap. Junto com outros rappers do Brasil, passei três meses gravando na Suíça”, ressalta. 

Uma nova etapa, um novo recomeço 

Viajando pelo mundo, coletando experiências e novas perspectivas de vida, a jovem artista projetou novas metas. Se antes atuava na música através de um selo musical, agora ela planeja ser a própria gestora da sua carreira artística, construindo um estúdio de gravação de música em Bento Ribeiro, na zona Norte do Rio. Atualmente, o espaço está em obras. 

“Eu sei que sou muito nova, mas também sei que comecei muito cedo na música. Tenho várias músicas lançadas com outros artistas, participei de diversos projetos, construí muita coisa coletivamente falando. Hoje, eu tenho vontade de montar minhas próprias paradas, andar com os meus próprios pés e tô conseguindo. Arranjei um espaço em Bento Ribeiro e tô construindo a minha gravadora de música com a ajuda de amigos, que hoje são parte da minha equipe de música”, destaca. 

Com ascendência indígena por parte de pai, Thai relembra a sensação de fortalecer a cultura e empoderamento dos povos originários do país com a realização do primeiro Slam Indígena na América Latina, organizado em 2019 na Festa Literária das Periferias (FLUP). Para ela, essa edição é um dos momentos mais marcantes em sua trajetória. “A arte é uma oportunidade de transformação, pois muitas vezes não temos lugares para nos expressarmos e de termos nossas pautas reivindicadas. Então, a arte vem e faz isso. É um momento lindo de construção, de reconstrução e de se conhecer. Ter auxiliado isso à cultura indigena foi especial”, define. 

Fora dos ritmos musicais e de gravações, a rapper também trabalha em projetos sociais para adolescentes e jovens no Rio de Janeiro. Através da iniciativa A Arte de Transformar (ADT), ela realiza intervenções artísticas no Departamento Geral de Ações Sócio Educativas, pois acredita que a presença cultural auxilia no desenvolvimento e na reeducação de todos. 

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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