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Debate ambiental rompe bolha e chega nas favelas, onde mudanças climáticas serão mais sentidas

Apesar disso, futuro não é prioridade para quem vive nos subúrbios e pega ônibus lotado numa pandemia
Foto: Kamila Camilo / Voz das Comunidades
Foto: Kamila Camilo / Voz das Comunidades

Foto: Arquivo Pessoal / Voz das Comunidades
Por: ​Karina Penha para PerifaConnection, na Folha de S.Paulo

“Nada sobre nós sem nós.” Vi essa frase grafitada em um muro e foi como se a cidade traduzisse pra mim da forma mais simples possível o que há quase seis anos no Engajamundo, instituição que promove a atuação de jovens no enfrentamento de problemas ambientais, a gente vem espalhando, como sementes, nos espaços de juventudes.

Saber que somos os mais afetados e vulneráveis aos impactos das mudanças do clima não é e nunca foi o bastante, pois não somos escutados na construção de soluções conjuntas.

Lá nos anos 2000, falar de meio ambiente era papo distante demais pra quem tinha pouco acesso a quase tudo. A gente ficava só com o desespero de saber que tinha alguma coisa acontecendo no mundo, como um buraco na camada de ozônio e blocos de gelo do tamanho de um prédio derretendo.

A geração que cresceu com a promessa de um aquecimento global descobriu que a única opção é lutar. Esta é mais uma das guerras que nós, juventudes de todas as partes, teremos que batalhar.

A responsabilidade é coletiva, porém os impactos dessa crise não serão sentidos da mesma forma por todos. Essa é a injustiça ambiental que existe desde sempre no Brasil.

Seja pela falta de braços suficientes para tantas lutas ou porque a interseccionalidade tem achado força e significado no debate popular, a pauta ambiental vem rompendo a bolha dos órgãos e especialistas e tem transitado pelas periferias.

Apesar disso, é importante dizer que o futuro não é um assunto prioritário para quem vive nos subúrbios e pega ônibus lotado em meio a uma pandemia, pois antes há prioridades como o combate à violência e às desigualdades.

Pode ser desafiador falar do “monstro invisível” das mudanças climáticas em um país onde existe um problema bem mais conhecido e presente na casa de quase 117 milhões de brasileiros: a fome.

Por outro lado, o atual debate de justiça ambiental (que é a perfeita tradução de que somos impactados de forma desproporcional pelos danos que causamos ao ambiente) permite o diálogo com quem está à frente do combate à fome, do debate sobre mobilidade urbana e das reivindicações do preço do ônibus.

Nesta grande conversa, estão incluídos também aqueles que abordam questões raciais e de gênero, se preocupam com saneamento básico, fazem governança comunitária, mobilizam por meio da fé e utilizam a arte para expressar a angústia do coletivo.

A gente descobre na prática o que é o socioambiental do qual falam que pertencemos, mas que nunca nos chamam para participar ativamente. Quanto mais se escuta sobre justiça climática, mais sentimos que falta espaço e, por consequência, maior é a necessidade de lutar pela inclusão de vozes diversas.

Se preocupar e agir pelo bem do planeta que queremos viver é resgatar o direito de sonhar. Em tempos difíceis para os sonhadores, a força está no coletivo, no que converge, reúne e une lutas que pareciam andar sozinhas. Até a forma como as desassociamos é fruto de um processo colonizador que molda a forma como vemos o ambiente e o nosso papel no mundo.

Quando a gente descobre que começar a agir pelos nossos é fortalecer a luta de um todo nos damos conta daquilo que se ouviu de Chico Mendes: “no começo, pensei que estivesse lutando para salvar seringueiras, depois pensei que estava lutando para salvar a floresta amazônica. Agora, percebo que estou lutando pela humanidade”.

Karina Penha
Bióloga e ativista socioambiental. Faz parte da iniciativa Fé no Clima, é articuladora do Engajamundo e mobilizadora do Nossas

PerifaConnection, uma plataforma de disputa de narrativa das periferias, é feito por Raull Santiago, Wesley Teixeira, Salvino Oliveira, Jefferson Barbosa e Thuane Nascimento. Texto originalmente escrito para Folha de S. Paulo.

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PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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