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Cria do Jacarezinho é uma das esperanças de medalha para o Brasil nas Paralimpíadas de Tóquio

Tuany Barbosa, de 28 anos, é atualmente uma das melhores atletas do mundo no arremesso de peso e lançamento de disco da classe F57 feminino

Foto: Acervo Pessoal

Moradora da favela do Jacarezinho, Zona Norte do Rio, Tuany Barbosa, de 28 anos, será uma das representantes de favelas do Rio que estarão nos Jogos Paralímpicos de Tóquio 2020. Atualmente, ela é uma das melhores atletas do mundo no arremesso de peso e lançamento de disco da classe F57 feminino. Sua trajetória no esporte paralímpico se iniciou após uma grave lesão que alterou radicalmente sua vida.

As paralimpíadas começaram oficialmente nesta terça-feira (24). E, desde a sua primeira edição em 1960, os jogos são a mais pura demonstração de superação e transformação de vidas através do esporte. Nascida e criada na comunidade do Jacarezinho, na Rua Marcílio Dias, no antigo beco dos caboclos, Tuany Barbosa, por 14 anos, foi praticante de judô. Aos 21 anos, era uma das promessas do Instituto Reação. Mas, durante uma luta com Idalys Ortiz na final do GP Interclubes, teve o joelho deslocado pela adversária. Após o episódio, a atleta iniciou uma grande batalha para não perder a perna.

Desafios enfrentados pelo caminho

“Tive que passar por um período bem longo de uma luta bem grande dentro do hospital. Ali achei que minha vida tinha acabado. Não tinha mais motivação. Só Deus para me sustentar naquele momento. Tive apoio incondicional da minha família, de alguns amigos e do Instituto Reação, por intermédio de Flávio Canto, um dos fundadores do Reação, e hoje embaixador paralímpico, que me apresentou ao movimento paralímpico junto com Anna Barcella e sua equipe. Me mostrou que minha lesão, minha deficiência não era o fim, sim o começo de tudo”, contou Tuany. 

Após a lesão, Tuany perdeu a sensibilidade na perna direita e dificuldades de locomoção.
Foto: Acervo Pessoal

Depois de um curto período de treinamentos, Tuany foi uma das 396 inscritas na etapa do Circuito Paralímpico de atletismo e natação. Foi medalhista no Centro de Educação Física Almirante Adalberto Nunes (CEFAN) ao arremessar 7,03 metros, representando o Instituto Superar. “Quando resolvi vir para o atletismo, abri mão de praticamente tudo para viver esse sonho. Hoje estou colhendo o fruto da semente que eu plantei lá atrás. A espera desse fruto crescer foi bem difícil”.

A classificação para as paralimpíadas foi muito comemorada por Tuany e ela comenta sobre a expectativa para os jogos. “De verdade, ainda nem sei descrever, estou vivendo um sonho de criança. Expectativa de medalha no Peso. Tenho pedido isso todos os dias a Deus. Tenho fé que ele está me ouvindo”. 

Sobre as competições

No arremesso de peso paraolímpico, os atletas lançam maças (bastão de 40 centímetros com base de metal) ou pesos de metal redondos (2 a 7,26 quilos) o mais longe possível. Nas provas de campo do atletismo paralímpico, eles contam com um artigo muito importante: a cadeira.

Cada atleta e treinador devem construir a estrutura da cadeira (também chamada de banco de lançamento) de acordo com a deficiência de cada um, possibilitando a ele uma maior mobilidade, segurança e estabilidade na hora de executar o movimento do arremesso. Já no lançamento de disco, durante a prova, cada atleta tem apenas três tentativas. Quem, ao final de tudo, arremessar mais longe, leva o ouro para casa. O peso das discotecas varia de categoria para categoria.

Porém, para ter a sua cadeira própria, o atleta paralímpico precisa obedecer a algumas normas que são exigidas em competições, como os Mundiais de atletismo e Jogos Paralímpicos. Uma das exigências, por exemplo, é a altura máxima da cadeira de 75 cm.
Foto: Acervo Pessoal

Tuany Barbosa também carrega o título de terceira no ranking mundial, segunda das Américas e Primeira do Brasil, além de recordista da classe no país. “A expectativa é de medalha no peito. Tenho pedido isso todos os dias a Deus. Tenho fé que ele está me ouvindo (…) Tudo isso eu só agradeço a Deus por ter me colocado pessoas na minha vida para que hoje aquela menina da comunidade do Jacarezinho tivesse motivação para viver novamente (…) Não só para atletas, mas para todos. Tenham fé! Acreditem! Nunca vai ser fácil, mas desistir não é uma opção para nós. Ser atleta, favelada, não é ser coitadinha, tudo é resultado de trabalho duro”, afirma ELA.

A atleta paralímpica estreia nos jogos na manhã do próximo sábado (28), às 09h30, na prova de lançamento de disco. Contudo, a expectativa dela e da comissão está no dia 02 de setembro, na prova de arremesso de peso, onde ela é uma das favoritas. A disputa começará às 20h.   

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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