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Crescimento do turismo no Vidigal é um legado da “pacificação” na favela

Moradores se beneficiam do que os turistas trazem de bom para o território
Amanda trabalha no Quiosque do Arvrão Vidigal desde o início e fez muitas amizades nesse período Foto: Igor Albuquerque / Voz das Comunidades

A política de pacificação da favela, que teve como principal características a criação das Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs), falhou drasticamente em vários aspectos, principalmente no seu objetivo central – que era de aproximar os moradores das comunidades das autoridades policiais. Porém, meio que sem querer, acabou criando um outro tipo de aproximação: A aproximação dos turistas com as favelas.

Essa aproximação acabou criando novas possibilidades de negócios e também fortaleceu negócios que já existiam. Mas eram voltados apenas aos moradores do território. Tal mudança fez com que vários segmentos crescessem e, consequentemente, criassem mais vagas de emprego e gerassem renda para os moradores.

Três exemplos desse crescimento que podem ser destacados aqui são o de transporte, a alimentação e o serviço de guia turístico. Se antes as kombis do Vidigal faziam transporte somente dos moradores, e sofriam com a concorrência ferrenha com os mototaxistas, depois da chegada dos turistas, isso tudo mudou. Hoje o volume de usuários do serviço cresceu e deu maior tranquilidade para quem já trabalhava há muitos anos com os antigos “cabritinhos”.

O motorista Fabiano Baeta Pimenta, 45 anos, trabalha desde jovem, inicialmente acompanhando seu pai, que também era motorista, e depois assumindo o volante, acompanhou toda essa mudança e vê como um serviço que deve ser feito essencialmente por moradores do Vidigal.

“O turismo melhorou a nossa renda. Nós que somos proprietários de Kombis e vans, antigamente, só carregávamos os moradores do morro mesmo. E com a chegada dos turistas, as coisas melhoraram muito. Eu trabalho desde os dez anos de idade com o meu pai, que me ensinou tudo. Eu tenho 35 anos trabalhando no transporte no Vidigal”, disse Fabiano.

Biano, como é mais conhecido no morro, falou também de como é complicado trabalhar no transporte da favela e que, além da melhoria na renda, a vinda dos turistas trouxe outros benefícios. “Para quem trabalha aqui é uma loucura diária, trânsito complicado, muito estresse, só quem é acostumado mesmo, como eu, é que consegue trabalhar aqui. Mas, por outro lado, também é bom porque carregando os turistas acabamos fazendo novas amizades e isso nos traz conhecimento de outros lugares do Brasil e do mundo”, completou.

O outro segmento que obteve grande crescimento foi o de alimentação, que são os bares e restaurantes que tiveram grande expansão depois da “pacificação” do Vidigal. Se antes esses estabelecimentos eram voltados para o consumidor interno (moradores), depois do início do processo de pacificação no Vidigal, iniciado em 2011, isso mudou. Surgiram vários bares e restaurantes, principalmente na parte mais alta da favela, voltados principalmente para o público de fora (turistas).

Fabiano trabalha há 35 anos nas kombis e testemunhou o crescimento do turismo na favela
Foto: Igor Albuquerque / Voz das Comunidades

O “Quiosque do Arvrão Vidigal” é um desses estabelecimentos e tem como principal atrativo a vista privilegiada de toda a orla da Zona Sul e também da Lagoa Rodrigo de Freitas. Isso atrai muitos turistas e foi de olho no crescimento desse fluxo que ele foi aberto, a cerca de três anos. Amanda Rosário Dias, 32 anos, trabalha há dois anos no estabelecimento, onde já ocupou os cargos de caixa e de gerente, vê o turismo como grande parceiro no crescimento e na manutenção desse tipo de comércio na favela.

“Para trabalhar nesse negócio é preciso ter persistência e o turismo nos trouxe bastante coisa. Além do conhecimento, que vem desde o guia turístico, do próprio turista, e até mesmo do cliente local. Temos também a questão do que eles consomem aqui, que geram renda para nós e nos ajuda a sustentar nossas famílias. Sem contar as amizades que fazemos. Sempre que eles (os turistas) voltam, eles me procuram aqui e isso é muito legal”, disse Amanda.

Esse é um dos principais legados que o projeto das UPPs  trouxe para a favela. Essa iniciativa acabou fazendo uma integração do morro com o asfalto e acabou colocando o Vidigal no “mapa” do turismo, no Brasil e no mundo. Hoje em dia os turistas percorrem o morro diariamente e acabam gerando trabalho e renda para muitas famílias que vivem no território.

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PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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