A política de pacificação da favela, que teve como principal características a criação das Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs), falhou drasticamente em vários aspectos, principalmente no seu objetivo central – que era de aproximar os moradores das comunidades das autoridades policiais. Porém, meio que sem querer, acabou criando um outro tipo de aproximação: A aproximação dos turistas com as favelas.
Essa aproximação acabou criando novas possibilidades de negócios e também fortaleceu negócios que já existiam. Mas eram voltados apenas aos moradores do território. Tal mudança fez com que vários segmentos crescessem e, consequentemente, criassem mais vagas de emprego e gerassem renda para os moradores.
Três exemplos desse crescimento que podem ser destacados aqui são o de transporte, a alimentação e o serviço de guia turístico. Se antes as kombis do Vidigal faziam transporte somente dos moradores, e sofriam com a concorrência ferrenha com os mototaxistas, depois da chegada dos turistas, isso tudo mudou. Hoje o volume de usuários do serviço cresceu e deu maior tranquilidade para quem já trabalhava há muitos anos com os antigos “cabritinhos”.
O motorista Fabiano Baeta Pimenta, 45 anos, trabalha desde jovem, inicialmente acompanhando seu pai, que também era motorista, e depois assumindo o volante, acompanhou toda essa mudança e vê como um serviço que deve ser feito essencialmente por moradores do Vidigal.
“O turismo melhorou a nossa renda. Nós que somos proprietários de Kombis e vans, antigamente, só carregávamos os moradores do morro mesmo. E com a chegada dos turistas, as coisas melhoraram muito. Eu trabalho desde os dez anos de idade com o meu pai, que me ensinou tudo. Eu tenho 35 anos trabalhando no transporte no Vidigal”, disse Fabiano.
Biano, como é mais conhecido no morro, falou também de como é complicado trabalhar no transporte da favela e que, além da melhoria na renda, a vinda dos turistas trouxe outros benefícios. “Para quem trabalha aqui é uma loucura diária, trânsito complicado, muito estresse, só quem é acostumado mesmo, como eu, é que consegue trabalhar aqui. Mas, por outro lado, também é bom porque carregando os turistas acabamos fazendo novas amizades e isso nos traz conhecimento de outros lugares do Brasil e do mundo”, completou.
O outro segmento que obteve grande crescimento foi o de alimentação, que são os bares e restaurantes que tiveram grande expansão depois da “pacificação” do Vidigal. Se antes esses estabelecimentos eram voltados para o consumidor interno (moradores), depois do início do processo de pacificação no Vidigal, iniciado em 2011, isso mudou. Surgiram vários bares e restaurantes, principalmente na parte mais alta da favela, voltados principalmente para o público de fora (turistas).
O “Quiosque do Arvrão Vidigal” é um desses estabelecimentos e tem como principal atrativo a vista privilegiada de toda a orla da Zona Sul e também da Lagoa Rodrigo de Freitas. Isso atrai muitos turistas e foi de olho no crescimento desse fluxo que ele foi aberto, a cerca de três anos. Amanda Rosário Dias, 32 anos, trabalha há dois anos no estabelecimento, onde já ocupou os cargos de caixa e de gerente, vê o turismo como grande parceiro no crescimento e na manutenção desse tipo de comércio na favela.
“Para trabalhar nesse negócio é preciso ter persistência e o turismo nos trouxe bastante coisa. Além do conhecimento, que vem desde o guia turístico, do próprio turista, e até mesmo do cliente local. Temos também a questão do que eles consomem aqui, que geram renda para nós e nos ajuda a sustentar nossas famílias. Sem contar as amizades que fazemos. Sempre que eles (os turistas) voltam, eles me procuram aqui e isso é muito legal”, disse Amanda.
Esse é um dos principais legados que o projeto das UPPs trouxe para a favela. Essa iniciativa acabou fazendo uma integração do morro com o asfalto e acabou colocando o Vidigal no “mapa” do turismo, no Brasil e no mundo. Hoje em dia os turistas percorrem o morro diariamente e acabam gerando trabalho e renda para muitas famílias que vivem no território.