“Juízo final”, canção composta por Nelson Cavaquinho e Elcio Soares, ainda que tenha um nome que desperte medo, fala de esperança. O chamado juízo final não é o fim de tudo, mas sim o meio de como a esperança nasce do caos. É o primeiro verso da música, “O sol há de brilhar mais uma vez”, que remete à mensagem de Fábio Serra, 43 anos, que lança sua autobiografia literária: “O Bandido que virou Artista”.
Fábio, conhecido como Sagat B, é natural de Queimados, baixada fluminense e atualmente mora no morro da Mangueira. Ele nos recebe no pé do morro e nos guia até a ONG África, espaço sociocultural localizado dentro da comunidade onde atua como ativista cultural. Mas Sagat é bem mais que isso. Ele se destaca por ser um artista completo. Além de escritor e ativista cultural, Sagat é rapper e produtor. Mas até chegar nesse patamar, Sagat retrata uma trajetória transformadora.
História de vida
Criado pela mãe, que trabalhava em casa de família, Sagat B conta que perdeu o pai com 1 ano de idade. Por conta de sua mãe sempre estar fora de casa, muito de sua infância foi na rua, onde teve contato com a criminalidade. “Fui preso a primeira vez com 21 anos. Fiquei 2 anos. Após 8 meses, fui preso de novo e fiquei 6 anos atrás das grades, o que foi um sofrimento terrível. Dois anos depois, fui preso pela terceira vez, mas no momento que estava sendo algemado pelo policial, eu decidi que a minha história tinha que mudar”. Nos últimos quatro anos dentro do sistema prisional, Sagat B se deu uma nova chance. “Voltei a estudar, li o máximo de livros que pude, aprendi a tocar violão, me envolvi muito com a música e isso fez toda a diferença”.
O artista revela que o período enquanto esteve preso foi um transformador, não só para desenvolver habilidades, mas também trouxe uma reflexão sobre a relação da sociedade para com o sistema carcerário. “Precisamos debater a ressocialização. A sociedade não oferece uma possibilidade de mudança para ex-presidiários. Eu aprendi a cortar cabelo lá dentro e isso me possibilitou que eu não dependesse de um empresário para conseguir uma renda. Porque se não fosse por isso, qual a chance que eu teria de conseguir um emprego?”.
“O bandido que virou artista”
Em sua autobiografia “O bandido que virou artista”, Sagat B relata que não só a história sobre sua vida, e sim também de milhares de jovens que passam pelo sistema carcerário. “Só muda o nome e o CPF. As histórias são muito parecidas, a forma de se envolver, a forma que tudo acontece, o desamparo social e a falta oportunidade. Venho mostrar a partir do momento que percebemos que erramos, há como retroceder”.
Sagat B está com grande expectativa para o lançamento do livro. O escritor já faz um trabalho fazendo palestras e contando sobre a sua história, o atravessamento do racismo, sendo um homem negro, e detalha como é o processo de ressocialização. Sua narrativa é gigante e traz a inspiração àqueles que passaram pelo sistema carcerário e também traz uma reflexão para pessoas que nunca tiveram contato com o mundo penitenciário.
O livro pode ser obtido de forma online, via ebook, no site da Amazon, acessando esteLINK e, em breve, em todas as livrarias do país. Para acompanhar o trabalho do rapper Sagat B, pode acompanhá-lo nas redes sociais, principalmente noInstagram.