Quaterback, Touchdown, Backfield, Endzone… Palavras que não fazem parte do nosso vocabulário, mas que invadiram o Complexo Esportivo da Rocinha, na Zona Sul da cidade do Rio, assim que o projeto social da escola de futebol americano Rio Football Academy chegou por lá e conquistou jovens de todas as idades.
“Desde pequeno é meu sonho jogar futebol americano. Eu sempre assisti em filmes e sempre quis jogar, mas não encontrava lugares que ensinassem” é o que disse Lucas Gabriel. O jovem tem 15 anos e viu um post no Instagram do Complexo da Rocinha sobre um treino e logo se interessou pelo projeto. “Corri atrás e hoje jogo campeonatos, já até treinei com a seleção. Já fiz vídeos para a NFL, a liga de futebol americano. Todo dia eu estou evoluindo e aprendendo mais um pouco. Eu quero ser profissional e estudar na Louisiana State University. Se deus quiser vai dar certo”, conta Lucas.
O sonho do Lucas acabou se tornando o sonho de muitos outros jovens que encontraram no futebol americano a chance de conseguir bolsas de estudos internacionais e alcançarem downs (o que seria o gol no futebol) inimagináveis. Esse é o objetivo principal da Rio Football Academy, a única escola de futebol americano do Rio de Janeiro. A ideia surgiu quando Patrick Dutton, hoje com 35 anos, voltou de um intercâmbio nos Estados Unidos, onde se apaixonou pelo esporte e viu que tinha potencial. “Eu conheci o futebol americano em 2011 através de uns amigos e me apaixonei pelo esporte e pela NFL. Sempre pratiquei esportes e vi que eu tinha um potencial, então fui estudar na Brooklyn University, em Nova York. Quando eu voltei, a minha ideia era tentar dar oportunidade para os mais novos aprenderem o esporte mais cedo, oportunidade que eu nunca tive”.
Em 2014 a RFA (Rio Football Academy) foi fundada e hoje, dez anos depois, a escola já enviou mais de 60 jovens para os Estados Unidos, México e Canadá. “Enviamos jovens para fora do Brasil para eles competirem por bolsas nas universidades e até por uma carreira profissional mesmo. Já conseguimos botar meninos jogando pelo high school, college e um menino chegou nas últimas das peneiras para o um time profissional”.
A escola é privada e utiliza os campos públicos da Barra da Tijuca e o Clube de Futebol Zico, no Recreio dos Bandeirantes, ambos na Zona Oeste, como base, mas sempre foi um sonho para Patrick ter um projeto dentro das comunidades. “Nossa escola é particular e temos um alto custo para mantê-la, já que os equipamentos são importados. Mas sempre tive o sonho de ter um projeto social. Eu sei a quantidade de atletas e bons perfis que temos nas comunidades do Rio”.
Abraçado pela favela
A oportunidade surgiu quando através de amigos, Patrick conseguiu apresentar o projeto na Associação de Moradores da Rocinha. “Eles amaram por ser algo diferente e pela oportunidade que os meninos iriam ter de poder viajar para fora do Brasil. Começamos ano passado. Os meninos já participaram de campeonatos, viajaram… Alguns deles já até ganharam”, conta o coach entusiasmado.
É o caso do Pietro Fonseca, 12 anos e morador da Rocinha. Através do projeto conseguiu pela primeira vez participar de um campeonato na vida. Ele conta que sempre praticou muitos esportes, mas que nunca imaginou que teria potencial para o futebol americano. “É coisa de filme. É muito diferente para mim. Nunca me imaginei jogando isso, mas estou amando. Cada dia que passa vejo mais a minha evolução. Minha vida mudou depois do projeto”. Quando perguntado se gostaria de seguir carreira, a resposta foi dada em poucos segundos, “quero muito. Eu acho que sou bom, acho que tenho futuro. Isso já se tornou um objetivo para mim. É um sonho que tenho”, conta Pietro.
Sonho esse que ele não constrói sozinho. Pietro descobriu o projeto através de sua mãe, Priscila Fonseca de 42 anos. “Eu sempre inscrevi o meu filho em tudo. Ele tem muita energia então sempre o botei para praticar muitos esportes. Eu vi a propaganda, achei diferente e disse para ele que não custava nada conhecer algo novo”. Ela conta que não entendia nada do esporte, mas que foi nele que o filho foi convidado para participar de campeonatos. “Eu sou muito babona. Sou mãe solo. Somos só nós dois. Participo de tudo, eu não quero não estar. Mas de tanto acompanhar ele, comecei a me interessar pelo esporte, aprender um pouco mais, entender a posição que ele joga. Ver meu filho feliz é maravilhoso, não tem nada melhor que isso”, conta Priscila. E se surgir a oportunidade de uma bolsa de estudos nos Estados Unidos? Priscila conta que ainda não está preparada para se separar de seu filho, mas caso a oportunidade venha, ele vai.
O projeto não ensina somente futebol americano, mas também o flag football, um novo esporte olímpico que segue as mesmas regras do futebol americano, porém é menos lesivo e com menos contato, facilitando a inserção dentro das escolas. Patrick, o fundador do projeto, contou que o flag é a porta de entrada para as crianças no futebol americano. “As posições são as mesmas, só não existe contato físico. Então, começamos com os mais novos com o flag football“.
Mas nem tudo é fácil quando se trata de projetos sociais. Ele conta que a falta de recursos ainda o incomoda muito. “Uma vez eu vi 4 crianças treinando em um sol de meio dia descalças. E eu perguntei porque eles estavam treinando assim e eles me falaram que não tinham chuteira para o futebol. Falei que eles poderiam treinar com qualquer tênis, mas nem isso eles tinham. Aquilo me tocou muito, apertou meu coração. Sentei em um banco e comprei 10 chuteiras e deixei lá para o projeto”, conta Patrick.
Essa necessidade fez com que a escola elaborasse um projeto para a lei de incentivo ao esporte e recentemente foi aceito. Patrick conta que o próximo passo é captar recursos para investir no projeto, mas que apesar das dificuldades é especial demais mudar a vida desses jovens e apresentar para eles novas possibilidades. “É um privilegio trabalhar com esses meninos, porque sabemos que o esporte é uma porta de estrada para muitas coisas, e de saída para outras. É um diferencial. Ensina muito para a vida. Se não fosse o futebol americano eu nem sei o que seria de mim”.
Para conhecer mais a Rio Football Academy siga a escola no Instagram RFA – 🔝YOUTH 🏈 PROGRAM IN SOUTH AMERICA (@riofootballacademy) • Fotos e vídeos do Instagram