De forma preocupante, os receios diários dos moradores nas comunidades cariocas recebem um crescimento constante pelas dificuldades socioeconômicas enfrentadas no Brasil. Se antes a temática priorizada era saúde e segurança em decorrência da pandemia do coronavírus no país, agora, os impactos pesam diretamente no bolso e, consequentemente, na qualidade de vida e bem-estar; a partir das escolhas dos alimentos que estarão presentes nos pratos dentro das residências.
Nos últimos meses, os preços dos produtos e dos alimentos passaram por uma variação crescente pela continuidade da inflação no mercado econômico. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a alta, que chegou a 78% em maio, já atinge boa parte das mercadorias nos estabelecimentos comerciais, o que dificulta até o processo de substituição de comidas e itens realizado por diversos moradores. Mas, o que isso impacta no cotidiano e planejamento dos moradores nas favelas do Rio de Janeiro? Pois bem.
Para a feirante Tânia Higa, de 61 anos, que trabalha com a comercialização de produtos há 40 anos, a inflação desenfreada deste 2022 afeta drasticamente os lucros dos seus produtos e, muito mais que isso, as compras do mercado do mês. Moradora da região conhecida como Nova Brasília há 35 anos, no Complexo do Alemão, ela divide os custos da alimentação com o seu marido. Mas, mesmo assim, o poder de compra tem diminuído assustadoramente.
“Já passei por outros momentos de crise econômica no Brasil, onde houve o aumento da farinha, da carne, do queijo e da margarina, por exemplo. Entretanto, nada comparado com o que acontece hoje. Não tem para onde correr! E dizem que um dos motivos desses aumentos absurdos é por causa da guerra de sei lá onde [Ucrânia], mas dúvido”, questiona a feirante.
A dificuldade relatada por Tânia é uma realidade compartilhada por diversos brasileiros e escancarada nas placas de preços dos produtos. Em resumo, o termo inflação significa a diminuição do poder de compra e da moeda de um país. Tal fator é dimensionado pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que é regulado pelo IBGE. Nesta métrica, é levado em consideração a base de preço médio necessário para realizar a compra de um conjunto de produtos ou de serviços.
Por ser uma demanda econômica e social, o Banco Central (BC) possui mecanismos e estratégias para combater ou frear o avanço da inflação. Por exemplo, a Selic, taxa básica de juros, é a principal maneira de controlar esse crescimento. Com essa política monetária, o BC segura o “mercado da tendência de preços” a partir dela. Porém, até com quem está acostumado a trabalhar com as variações dos valores, como Tânia, a dúvida se esse método realmente funciona é grande. “Eu sei que tem essa tal de taxa Selic, mas não vejo ela nos ajudando”, comenta Tânia.
A mudança nos custos é sentida principalmente nos alimentos classificados como commodity (produtos básicos). Entre eles, a soja, cana-de-açúcar, café, carne bovina, cacau, arroz, trigo e outros.