A cultura e a educação andam de mãos dadas, como defende o educador Paulo Freire. Para que a educação seja verdadeiramente libertadora e transforme a sociedade, ela precisa estar ligada ao contexto cultural de cada comunidade. Quando pensamos nisso, podemos perceber como os movimentos culturais, em suas diversas formas, têm ganhado espaço na vida das pessoas impactadas pela educação, mudando suas realidades e mostrando que é possível olhar o mundo de uma maneira diferente.
Recentemente, uma pesquisa realizada pela FLUP (Feira Literária das Periferias) revelou que 74% dos moradores das favelas são leitores. Esse número demonstra a força da literatura para ajudar a população periférica a se enxergar e se reconhecer como protagonista de sua própria história. Assim como o poeta e artista Bruno Black, de 43 anos e morador do Fumacê, em Realengo, nos contou. “(…) é importante construir esse lugar cultural em que as pessoas que chegam se vejam como autores de suas vidas.”
Bruno é o autor do livro ‘Comunidade do Fumacê FMC’, que reúne relatos de moradores da favela, com o objetivo de mostrar os aspectos positivos de suas vidas, ao invés de apenas reforçar os estereótipos negativos que muitas vezes são passados pela mídia. Esse projeto gerou uma nova iniciativa chamada Clube das Palavras, que começou em janeiro de 2024. O Clube é um encontro cultural e literário mensal, pensado para envolver a comunidade e mostrar que as pessoas têm o poder de contar suas próprias histórias.

“O Clube nasceu porque, após o lançamento do livro, a comunidade ficou num silêncio, e não sabiam como eles podiam seguir a partir dali. Eu criei com o intuito de colocá-los como agentes principais da vida deles”, disse o criador.
O evento cobra uma taxa de R$40,00 por encontro e oferece aos participantes cerca de 5 horas de atividades. Cada reunião inclui uma entrevista com um autor favelado, um sarau, autógrafos, lanches preparados pela confeiteira local Márcia e, claro, a oportunidade para os participantes escreverem seus próprios textos, inspirados pelos ensinamentos do autor convidado.
Além de ser um projeto cultural, o Clube das Palavras também tem se espalhado para as salas de aula, quando professores que participam dos encontros levam a experiência para seus alunos. Isso transformou a literatura em uma ferramenta de educação, cultura e até mesmo de educação financeira, ultrapassando os limites do quintal onde as atividades acontecem todo mês.
Em novembro de 2024, o projeto culminou na realização da Feira Literária do Fumacê, um evento que durou mais de dois dias e impactou mais de 100 mil pessoas. Foi uma grande celebração da literatura e da cultura periférica, mostrando como a união entre cultura e educação pode realmente transformar vidas.
Em um contexto em que a educação é muitas vezes vista apenas como um processo formal, projetos como o Clube das Palavras demonstram a verdadeira força da literatura como ferramenta transformadora.