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PM faz operação na Penha e Alemão no dia que completa um ano de uma das chacinas mais letais da região

Um ano da Chacina da Penha e região relembra o dia com mais violência policial
Chacina da Penha completa um ano. (Foto: Reprodução)
Chacina da Penha completa um ano. (Foto: Reprodução)

Chacina. Esse é o termo usado quando mais de três pessoas são mortas. Na Penha, há exato um ano, 23 pessoas foram brutalmente assassinadas na operação policial do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e da Polícia Rodoviária Federal na Vila Cruzeiro e no mesmo dia no Juramento e na Serrinha outras três pessoas também morreram em ocorrência policial, totalizando 26 mortos. A chacina da Penha é considerada a segunda mais letal do Rio de Janeiro, ficando atrás apenas da chacina do Jacarezinho.

Nesta quarta-feira (24), a região do CPX da Penha já acordou com os disparos que anunciaram uma operação policial na região.

Relembre o caso:

Relatos de dentro

“Aquele dia era para ser esquecido, meu amigo. Mas, infelizmente, não conseguimos tirar da memória a cena que foi vista”, conta o mototaxista Eric Vieira, de 41 anos, que não consegue esquecer nenhum detalhe do que aconteceu aquele dia. “Chegou um momento onde os familiares dos rapazes que estavam na mata pediam socorro! E os familiares chamaram os mototáxis, pessoal das kombis, transporte alternativo dentro da comunidade, para buscar quem estava baleado. […] Todos os corpos que vimos não tinham armas ao lado. Não sabemos se não estavam armados ou policiais recolheram as armas” conta. “E lá em cima na parte onde já estávamos chegando na saída do (Morro do) Sapo, Veio o comboio da Polícia Rodoviária Federal, eles atiraram diversos disparos em nossa direção. Onde nosso amigo JN, mototaxista, foi alvejado no ombro e caiu na nossa frente.”

Claudia Sacramento, criadora da página “Via Cruzeiro RJ” conta que “foi um dia muito triste. Senti na pele a dor de cada familiar. E eu acompanhando tudo, mas com o coração despedaçado devido tantas mortes e família sofrendo. Um ano, um ano que muitos familiares perderam seus entes. Sim, eles tem família, são pai, filhos, netos e (a violência) uma coisa que não tem necessidade.

Ouvidor público relembra o caso

Blindado circulando na Penha durante operação que matou 26 pessoas. (Foto: Reprodução)
Blindado circulando na Penha durante operação que matou 26 pessoas. (Foto: Reprodução)

Guilherme Pimentel, ouvidor geral da Defensoria Pública, conta que esteve no local recolhendo os relatos dos moradores para fazer um relatório. Pimentel relata que os primeiros relatos começaram a chegar nos primeiros minutos da operação. Guilherme relembra que mesmo depois de solicitar o cessar fogo para as autoridades estaduais, o pedido não foi acatado e tiveram mais vítimas fatais. “Nosso pedido não foi atendido apesar da grande crise humanitária instalada no território. O fato é que após o nosso pedido, mais vítimas fatais ocorreram. É lamentável que vidas tenham sido perdidas sem que todos os esforços para preservá-las tenham sido adotados.”

O ouvidor público relembra que ativistas foram agredidos pelos policiais na ocasião. Ele conta que existe um inquérito no Ministério Público Federal mas que não tem acesso ao conteúdo dele. Segundo Guilherme, também tem um inquérito na delegacia de homicídios da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro e que, conforme ele, é irregular porque deveria ter ido para a esfera federal pelo envolvimento da PRF na ocorrência.

Em nota a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro disse que o plano estadual de redução da letalidade policial está sendo debatido no STF, inclusive em um Grupo de Trabalho denominado Justiça Cidadã, no âmbito do CNJ. A Defensoria Pública participa desse grupo de trabalho e participou da vistoria realizada em março passado, no Rio de Janeiro. A Defensoria Pública também acompanha alguns casos da chacina da Penha, que ainda estão em fase de investigação policial.

O Silêncio

Um ano depois da Chacina que matou pelo menos 26 pessoas, entramos em contato com a Policia Civil do Estado do Rio de Janeiro (PCERJ) que está com alguns casos sobre a chacina da Penha. Perguntamos se a PCERJ tem competência para investigar um caso que envolve setores federais, porém não fomos respondidos.

Também entramos em contato com a assessoria do governador Claudio Castro, que também era o representante do Estado na época da chacina, mas não conseguimos respostas. Vale lembrar que no início do mês tentamos contato com o Estado quando abordamos da chacina do Jacarezinho. Também não tivemos respostas. Igor Marques, subsecretário de comunicação do Governo do Estado, publicou em uma rede social que é “um entusiasta da troca de ideias e do diálogo” entretanto não responde quando se fala nas chacinas mais letais do Rio de Janeiro.

Um ano depois da Chacina da Penha, a região do Complexo do Alemão e da Penha amanhecem ao som dos tiros. Entramos em contato com a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro pedindo informações sobre a operação, relembrando a data da chacina. Perguntamos sobre o uso de câmeras e sobre o cumprimento das medidas propostas pela ADPF das favelas mas até o momento não tivemos resposta.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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