Carnaval é festa, alegria, diversão… e é dessa folia que sai o sustento de muita gente. No Rio de Janeiro, o Carnaval atrai milhares de turistas, movimenta a economia da cidade e gera empregos em vários segmentos. De acordo com estudos da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, a previsão é abertura de 24,6 mil vagas para trabalhos temporários este ano.
Já as escolas de samba geram empregos durante o ano todo. Se engana quem acha que o Carnaval começa em fevereiro. Os desfiles impecáveis que assistimos na avenida são resultado de meses de muita dedicação. Afinal, é o maior espetáculo da Terra.
Viver de Carnaval parece divertido, mas requer grande responsabilidade. Cada detalhe pode ser decisivo para garantir a nota dez e o tão sonhado título de campeã. Nos barracões das escolas de samba, cada pessoa exerce uma função importante para a agremiação. Um exemplo são as costureiras, responsáveis pela confecção de fantasias.
No Vidigal, Zona Sul do Rio, as costureiras, crias da comunidade, produzem os desfiles com show de simplicidade e beleza. O Acadêmicos do Vidigal é um bloco de enredo do Grupo 1 e conta com 350 componentes. Por não ter um barracão, as fantasias são feitas na casa do presidente ou de costureiras locais. A preferência da agremiação é dar oportunidade aos profissionais da favela.
Dona de um pequeno ateliê dentro da comunidade, Dejenane Freitas, 49 anos, é uma costureira pé quente. A Acadêmicos do Vidigal foi campeã quando ela começou a confeccionar as fantasias da escola há 10 anos.
Durante esse tempo, seu maior desafio foi produzir a fantasia do casal de mestre sala e porta bandeira. Atualmente é responsável pela maioria das alas. “Gosto de costurar, de ver aquilo nascendo. Depois que bota o brilho, fica lindo”, diz.
O carnavalesco também coloca a mão na massa. Carlos Tikin, 44 anos, é filho de costureira e, o que aprendeu com a mãe, põe em prática no mundo do samba. No Carnaval de 2023, a Acadêmicos do Vidigal vai levar para a Avenida Chile, no dia 18, o quilombo de Tereza de Benguela.
“Podem esperar um trabalho bacana, com muita criatividade e beleza. Espero que entre para a história. Estamos trabalhando para isso”, afirma Carlos.
Na Cidade do Samba, o barracão da Imperatriz Leopoldinense está a todo vapor. As costureiras da equipe coordenada por Cristiane Machado, 45 anos, tem como missão fazer a fantasia da bateria, além de outras alas da Rainha de Ramos.
Em 2013, Cristiane aceitou o desafio de trabalhar na escola. Natural de Minas Gerais, a costureira é moradora do Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio. A oportunidade surgiu assim que chegou à Cidade Maravilhosa. Atualmente, coordena uma equipe com 10 costureiras e sonha em ajudar a profissionalizar mais pessoas na área.
“É daqui que eu tiro meu sustento, é daqui que eu já realizei sonhos e eu tenho certeza que vou conseguir realizar mais. Falta mão de obra na nossa área. Espero um dia poder ajudar e ensinar quem tem interesse em aprender. A oportunidade que a gente dá para as pessoas de trabalhar aqui é muito grande”, conta Cristiane.
Este ano, a Rainha de Ramos será a quarta escola a passar pela Marquês de Sapucaí na noite de segunda-feira (20) e Cristiane está confirmada no desfile. “Faço questão de desfilar, de estar na Avenida dando apoio para o pessoal que precisa junto com minha equipe. A Imperatriz para mim é uma base, um suporte que eu tenho”, declara.
Reportagem produzida para o jornal impresso do Voz das Comunidades.
Texto: Amanda Botelho / Fotos: Selma Souza