Gabriel Mendes, 27 anos, um jovem nascido e criado no Morro da Deus, no Complexo do Alemão, transformou sua vida através do esporte. A história de superação do atleta e professor, que enfrentou a perda dos pais ainda jovem e as estatísticas desfavoráveis aos homens negros, é um exemplo de como o esporte pode ser uma ferramenta poderosa que muda vidas.
Em 2017, o Voz das Comunidades noticiou com orgulho as 20 medalhas de ouro que o Espíndola Team trouxe pro Alemão no Campeonato Brasileiro de Kickboxing. Dentre os jovens, estava Gabriel Mendes, que faturou sua primeira medalha dourada no esporte e hoje acumula dezenas delas.
Mas a vida de Gabriel nunca foi fácil. Sua mãe morreu em decorrência de câncer ainda quando bebê e seu pai faz parte da lista de homens negros mortos pela violência. De acordo com o relatório do Atlas da Violência, a população negra compõe 80% das vítimas fatais de violência. Gabriel conta que o cenário desigual e cercado de repressão influenciou o seu comportamento. Mas, aos 9 anos, ele começou a praticar artes marciais e encontrou no esporte uma nova perspectiva: “Eu era um garoto muito brigão. Todo mundo achava que eu ia seguir o caminho do crime, sempre me metia em confusão. Mas quando comecei a praticar artes marciais, descobri uma paixão nova”, revela Gabriel.
O Caminho para o Sucesso
A jornada de Gabriel foi marcada por muitos desafios. A falta de recursos financeiros e a necessidade de conciliar os treinos com os estudos eram apenas alguns deles. No entanto, a determinação e o apoio de seus amigos e familiares o mantiveram focado em seu objetivo. Em 2017, após anos de dedicação e esforço, Gabriel conquistou o título de campeão brasileiro de artes marciais. E o Espíndola Team, projeto do qual faz parte, teve 20 medalhistas naquele campeonato. A vitória foi um marco em sua vida. “Ser campeão brasileiro foi a realização de um sonho”, afirma.
O instrutor e mestre de Gabriel, Raphael Espindola, dá aula há 17 anos e conta que a maior dificuldade dos atletas de Kickboxing é a falta de apoio financeiro. “Da galera toda que ganhou 20 medalhas, somente o Gabriel continua, mesmo sem patrocínio. A gente segue nessa luta para as participações em campeonatos, mas falta um olhar dos investidores para a favela e do entendimento de que as artes marciais salvam vidas. É essencial”, reforça.
Para Gabriel, o esporte foi muito mais do que uma atividade física. Foi uma forma de encontrar um propósito de vida, de construir uma nova identidade e de se conectar com outras pessoas.”O esporte me deu disciplina, foco e me ajudou a canalizar toda a minha energia para algo positivo. Eu me lembro de quando comecei a treinar e as pessoas duvidavam de mim. Achavam que eu não ia conseguir nada. Mas eu provei que elas estavam enganadas”, afirma Gabriel com orgulho. “O esporte me mostrou que é possível superar qualquer obstáculo, não importa o quão grande ele seja.”
Um Ídolo para o CPX
Atualmente, Gabriel é um exemplo para muitos jovens da favela. Ele utiliza sua experiência para ajudar outros jovens a encontrarem seu caminho e a superar as dificuldades da vida. “Preto, sem pai, sem mãe, um adolescente rebelde. O que mais poderia acontecer com esse menino, né? Pois é, me tornei campeão.O esporte transformou minha vida e eu quero fazer o mesmo por outras pessoas. Quero mostrar para os jovens da favela que é possível construir um futuro melhor através do esporte.”
Gabriel Mendes está alcançando novos horizontes e seu talento e determinação foram reconhecidos do outro lado do mundo, no Japão. Uma equipe do país veio ao Brasil para realizar uma filmagem com o atleta e convidaram Gabriel para participar da luta de artes marciais no Japão. Ainda sem data definida, a previsão é de que a competição aconteça nos últimos meses do ano.
O esporte e as artes marciais podem ser uma ferramenta poderosa para promover a inclusão social e o desenvolvimento pessoal. Ao oferecer oportunidades de prática esportiva para crianças, jovens e adultos, é possível promover a cidadania e construir um futuro mais promissor.