Pinturas que transbordam a representação divina das pessoas negras do Complexo do Alemão. A abertura de ‘Santidades’, primeira exposição do artista visual e grafiteiro Jeff Seon, aconteceu neste sábado (15), no Sesc Ramos, na Zona Norte do Rio de Janeiro. A mostra tem curadoria de André Sheik e produção de Gime Bernabeu.
Nascido e criado no CPX, Jefferson Souza Alencar explica quem seriam essas Santidades. “São retratos de pessoas, a maioria negras, que de alguma maneira me incentivaram a ser quem eu sou. Me encorajam a não desistir”, afirma o artista, que entrou no mundo do grafite há 14 anos, quando havia uma unidade da Cufa no Campo da Mina.
A inquietação que impulsionou a exposição começou quando, ao olhar para a produção religiosa clássica de origem europeia, o artista se questionava por que não havia figuras negras representadas. Pessoas como as de sua família – mãe, avó e filha, por exemplo -, seus amigos. E também figuras já bem conhecidas por sua liderança exercida no Alemão, como Tia Bete, Tia Lúcia e Claudinha.
“A vontade de homenageá-las vem de um tempo já. Elas são lideranças com uma força incrível, cada uma me inspira de uma maneira diferente. Tia Bete com sua elegância e simplicidade, Tia Lúcia cheia de garra e uma luta grande por trás, Claudinha é amada por todos também, o jeitinho que as crianças olham ela com carinho… Tudo isso e muito mais me inspira a fazer arte”, reflete, ao mesmo tempo que, sem citar, carrega palavras com muita força política.
Para Seon, o objetivo é retratar pessoas da comunidade. “E fazer com que elas se sintam obra de arte, que elas sejam parte.”