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Ancestralidade e presença de Gilberto Gil marcam a 13ª Festa Literária das Periferias

Evento literário foi marcado pelo resgate a ancestralidade de Lima, Beata e Machado de Assis
Foto de Selma Souza, fotógrafa do do Voz das Comunidades, mostrando participantes da Flup
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

A 13ª edição da Festa Literária das Periferias (Flup) começou nesta sábado na Ladeira do Livramento na Gamboa, terra de Machado de Assis e de muita ancestralidade. A data não podia ser diferente: 13 de maio, dia dos Pretos Velhos da Umbanda. 

A Flup começou com uma intervenção cultural, no centro da Ladeira do Livramento. O grupo Filhos de Gandhi louvaram os Orixás com cantigas e muita dança.  Até a escadaria da Arena Samol foi lavada ao som do atabaque e de louvores a Exu e Ogum, abrindo os caminhos com muita alegria, axé e água de cheiro.

Sob o som e cantos da religião de matriz africana que entrevistamos dona Maria Lúcia e seu neto Miguel. Ela conta que foi a primeira vez que esteve no evento e sentiu-se emocionada. “Eu via a lavagem quando era criança porque minha mãe fazia muito, mas ela faleceu e acabou tudo. Faz parte da minha origem.” Ela levou seu neto Miguel Ferreira, de 10 anos, para ver o resgate a ancestralidade. 

Dani Salles, diretora da Flup, disse que está se sentindo grata por poder prestar essa homenagem a Machado de Assis. Ela conta que o termo “cria” é mais um passo para afirmar a negritude do escritor. “A gente quer reposicionar Machado de Assis nesse lugar de homem preto da favela, ao mesmo tempo aproveitando a véspera do dia das mães para celebrar essas mães ancestrais na presença de mãe Beata de Iemanjá, que não trata só de religiosidade mas ela fez essa transição da oralidade para literatura escrita”, explica.

Homenagem a Mãe Beata de Iemanjá

A abertura do evento foi marcada pela feijoada em homenagem aos pretos velhos, seguida pelo lançamento do livro Quilombo do Lima, que reuniu 22 autores negros com releituras das obras de Lima Barreto em memória ao seu centenário de morte. O lançamento também marca o fim das homenagens ao escritor e a abertura do novo tema da FLUP: Mundo da palavra, palavra do mundo. Uma homenagem a Machado de Assis e Mãe Beata de Iemanjá. Mãe Beata foi uma mãe de Santo no terreiro Ilê Omiojuarô, ativista do meio ambiente, dos direitos humanos, sobretudo em raça e  gênero.

Foto: Lucas Feitoza / Voz das Comunidades

A jornalista Flávia Oliveira, que é prima de Mãe Beata, conduziu a homenagem a Ialorixá na mesa Mãe Beata Ialodê do Nosso Tempo. O termo ‘Ialodê’ é usado para homenagear mulheres que representam outras mulheres em espaços políticos. “Uma celebração às raízes da literatura brasileira”, explicou a jornalista.

Leia também: Flup 2023 celebra Machado de Assis e Lima Barreto no Morro da Providência

A conversa foi dividida em blocos que abordaram a vida e historia de mãe Beata. Participaram do debate 20 ialorixás herdeiras de mãe Beata,  que fizeram parte da vida da Ialorixá, como a Ekedje Estela, iniciada no camdomblé por mãe Beata. Yá Ivete, filha de mãe Beata e herdeira do Ilê Omiojuarô, Lúcia Xavier fundadora do grupo Criola, entre outras.

Gilberto Gil, imortal da Academia Brasileira de Letras, subiu o Morro da Providência

Para participar da mesa “Quem me deu régua e compasso”, a Flup trouxe Eliana Alvez Cruz, escritora e jornalista, Haroldo Costa, sambista, escritor e produtor e Gilberto Gil, que foram carinhosamente chamados de Pretos Velhos dos nossos tempos. 

Antes de entrar para a mesa de debate, Gilberto Gil, eleito em 2022 como imortal da Academia Brasileira de Letras, ex-ministro da cultura, deu uma palavra para o Voz das Comunidades onde falou da importância da FLUP para a ancestralidade “Esse evento já vem acontecendo a treze anos e hoje estou eu aqui. Está o Haroldo, Eliana, e ano que vem, terão outros nos sucederão nos próximos anos”.

Ex-ministro da cultura esteve presente na Flup 2023, no Morro da Providencia, no Rio de Janeiro
Foto: Lucas Feitoza / Voz das Comunidades

Sobre a Academia Brasileira de Letras, Gil subiu a Ladeira da Providência e declarou que é “uma força a mais que se soma na construção”. O tropicalista acrescentou que “imortal somos todos nós e a nossa história”. Ele também disse que a FLUP, nos seus 13 anos de história, vem construindo narrativas. “São sementes permanentes que a gente planta a cada momento.”

Quem quiser saber mais sobre todas as atividades da Flup, pode acessar a programação completa no site https://www.flup.net.br

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Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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