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‘Ação Social pela Música do Brasil’ promove oficinas de letramento racial e temáticas sociais a 4 mil jovens de favelas do Rio

Implantadas desde 2023, as oficinas buscam desenvolver a educação antirracista e ampliar o senso crítico dos alunos para uma cidadania ativa por uma sociedade menos desigual.
Foto: Reprodução

Música clássica, educação e construção. Essa é a missão da Ação Social pela Música do Brasil (ASMB). O projeto, que existe há 25 anos e que atende 4.700 crianças e jovens em situação de vulnerabilidade com educação cultural e social por meio da música clássica, introduziu desde 2023 em sua grade de ensino, oficinas com temas transversais que abrangem, principalmente, letramento racial, além de atividades e palestras sobre temáticas sociais diversas como assédio, gênero, machismo estrutural, etc.

As aulas têm o objetivo de ampliar o senso crítico dos alunos e desenvolver a cidadania ativa para a construção de uma sociedade mais humana e menos desigual. As oficinas vêm mudando a perspectiva desses jovens que encontram um espaço de escuta, diálogo e reflexão e que muitas vezes, têm o primeiro contato com os temas nas oficinas.

Cerca de 90% dos estudantes que frequentam o projeto da ASMB no Rio de Janeiro, são negros. Assim, os professores e educadores entenderam aí uma lacuna de ensino no que diz respeito, principalmente, ao letramento racial. As aulas foram implementadas em todas as turmas, de acordo com a idade dos estudantes, e os conteúdos foram se diversificando conforme a demanda de conhecimento dos alunos sobre outras temáticas sociais.

“Nas aulas, realizamos atividades que enaltecem a cultura preta, abordando aspectos históricos, além da representação da pessoa negra. Enfatizamos a importância do combate ao racismo estrutural, prevenção ao preconceito, etc. Os alunos também conhecem os nossos heróis negros. São histórias que as escolas não contam, e quando falam, é de maneira rasa. As crianças, e especialmente as crianças pretas, crescem ouvindo sua história pela metade, e sofrem muito com isso, porque a história delas é sempre contada de maneira degradante”, explica a professora Marcele Oliver, ativista e educadora social, responsável pelas oficinas transversais do projeto.

Foto: Reprodução

Em sala de aula, além do ensino antirracista, a educadora também aborda temas urgentes e atuais, como por exemplo, a potencialidade das favelas, mostrando aos jovens as diferentes perspectivas sobre tais assuntos. Há ainda atividades externas, como visitas a museus. “Além da questão racial, que é o foco principal, também falamos de religião, violência, machismo, feminismo, homofobia… Sempre de maneira respeitosa, acolhedora, descontraída e objetiva, dando espaço para as opiniões e promovendo a reflexão. Fazemos esse exercício civilizatório, explicando que as diferenças fazem parte do convívio social e tudo é tratado com muito cuidado para não ferir as crenças de cada um”, completa.

Em sua observação, Marcele revela que é comum estudantes negros não se identificarem como pessoas pretas até que frequentem as aulas. “É interessante ver como muitos jovens negros não se entendem como pessoas negras. E muitas crianças acham que os negros são só as pessoas pretas retintas, por exemplo. Existe essa revelação nas oficinas, porque muitas pessoas ainda negam a negritude, pois quando você se entende negro, imediatamente vira alvo do racismo. Infelizmente temos essa construção no Brasil”, ressalta.

Marcele lembra ainda que, em 2003, foi aprovada a Lei 10.639 que obriga todas as escolas públicas e particulares a promover o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana desde o ensino fundamental até o ensino médio. “Mas sabemos que isso ainda não é uma realidade. Então, as oficinas também preenchem essa lacuna”, diz.

Muito mais do que o ensino de música clássica, a Ação Social pela Música do Brasil busca trazer cidadania aos estudantes, promovendo ações como o desenvolvimento dos temas transversais, além de visitas a museus, oficinas de reciclagem e reforço escolar, algo que vem fazendo a diferença na vida de muitos deles. Parte dos jovens frequenta o projeto por anos, tornando-se monitores e músicos dos grupos orquestrais da ASMB, o que gera ainda mais oportunidades para eles e suas famílias.

“O ensino de música clássica exige muita disciplina e horas de prática. Indo muito além de ensinar os jovens a tocar um instrumento, as aulas servem para moldar cidadãos, para promover um ambiente mais saudável e uma conscientização de quem esses jovens são e suas potencialidades”, diz Fiorella Solares, diretora e criadora da Ação Social pela Música.

Com 13 núcleos de aprendizado musical e em 18 polos de musicalização no Brasil, a ASMB também é o projeto social de ensino de música que mais insere estudantes em cursos superiores de universidades públicas cariocas. Por semestre, cerca de 15 alunos egressos do projeto são aprovados nos vestibulares de Música da UFRJ e UniRio. O projeto também já aprovou alunos em conservatórios europeus de música. “Muitos acabam seguindo a carreira musical, outros não, mas o importante é que, com o nosso suporte, eles se tornam cidadãos dedicados. E é isso o que nos motiva e nos dá orgulho”, conclui Fiorella.

Para acompanhar o trabalho da Ação Social pela Música do Brasil, siga o projeto nas redes socias e no site oficial.

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PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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