Foto: Matheus Guimarães / Voz das Comunidades
Em tempos de alta conectividade somada ao excesso de informações,tentativas de descredibilizar a imprensa e notícias falsas, muitos temas, como a Ciência, estão sendo questionados. Atualmente, um dos assuntos mais debatidos, principalmente pelo fato de a sociedade estar em meio à uma pandemia, tem sido a vacinação.
Foi em 1798 que o termo “vacina” surgiu pela primeira vez, por meio de uma experiência do médico e cientista inglês Edward Jenner, que injetou em um garoto de oito anos um soro de varíola bovina, conseguindo torná-lo imune à doença. A palavra vacina deriva justamente de Variolae vaccinae, nome científico da varíola bovina. Estima-se que, no século 20, de 300 a 500 milhões de pessoas tenham morrido com varíola, que foi erradicada mundialmente no fim dos anos 1970 após uma campanha de vacinação global coordenada pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
As vacinas são um marco na história da humanidade. Elas têm como função estimular nosso corpo a produzir respostas imunológicas a fim de nos proteger contra uma determinada doença. A vacinação é o método mais efetivo de prevenir graves enfermidades que, no passado, levavam crianças e adultos a óbito muito mais facilmente do que hoje.
Por que tomar vacinas?
Questionamentos sobre as vacinas existem desde sua descoberta e que as primeiras campanhas para vacinação foram organizadas. Eles surgem a partir de argumentos acerca da ética, de sua efetividade e da segurança de seus métodos. Hoje em dia, questiona-se também a forma como as vacinas são desenvolvidas e se fala contra a obrigatoriedade da vacinação, que atacaria a liberdade individual. Estudiosos afirmam que o desconhecimento sobre o tema e a existência de notícias falsas (fake news no termo em inglês), sem embasamento científico, passam a contribuir com a diminuição na procura pelo imunizante.
Mais do que uma decisão individual, a não vacinação é uma atitude que afeta e prejudica toda sociedade. Quanto mais pessoas não vacinadas, maiores são as chances de doenças já erradicadas voltarem. Foi o que aconteceu com o sarampo, no Brasil, por exemplo. Algumas doenças, como a varíola, já não estão ativas há anos, por isso, pessoas mais jovens não têm consciência de suas gravidades. E por esta razão, não dão a devida importância e valorização para a vacinação.
Diminuição da imunização
Nos anos 1920, uma em cada cinco crianças morria antes dos cinco anos ao ser contaminada com algum tipo de doença infecciosa. Nesse período, eram comuns as contaminações por sarampo, caxumba e rubéola, devido ao alto nível de contágio. Hoje, graças às vacinas, doenças como a varíola e a poliomielite foram quase totalmente erradicadas. Porém, a erradicação de algumas dessas doenças está ameaçada por grupos de pessoas que decidiram não confiar na sua eficácia. Com isso, essas enfermidades voltaram a ser uma preocupação para a saúde pública.
Na cidade do Rio de Janeiro, os dados demonstram a queda na procura pela vacinação. Em 2019, a cobertura vacinal de crianças de até um ano de idade, fase em que vários imunizantes importantes começam a ser aplicados, ficou abaixo do esperado. A tríplice viral, que é uma vacina que protege contra três doenças (sarampo, caxumba e rubéola), atingiu 79% do público-alvo. A da febre amarela, chegou a apenas 68% dos bebês nascidos no ano. Já uma das mais importantes e completas imunizações para recém-nascidos e que protege contra cinco doenças (difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e contra a bactéria haemophilus influenza tipo b, que causa a meningite) foi tomada por apenas 61% das crianças em 2019.
Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), “é obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias”. É fundamental entender que a imunização de recém-nascidos é um compromisso dos responsáveis legais e que a não vacinação pode configurar crime.
Coronavírus nas favelas
Desde o aparecimento do novo coronavírus e da doença que ele causa (Covid-19) e, mais tarde, com sua proliferação em nível mundial (pandemia), fala-se do desenvolvimento de uma vacina. Depois da declaração oficial por parte da Organização Mundial de Saúde de que o novo coronavírus havia provocado uma pandemia, e que a Covid-19 pode ser mortal, cientistas de diversas nacionalidades começaram a trabalhar incansavelmente em busca de um imunizante para o coronavírus. No Brasil, a Covid-19 se espalhou rapidamente: até o fechamento desta matéria, 9.204.731 brasileiros haviam sido contaminados e 224.504 morreram vítimas da doença.
No município do Rio de Janeiro, até a última atualização, ontem (31), 520.967 casos confirmados e 29.811 óbitos. Já nas favelas cariocas, dados mostram a impressionante marca de 11.119 casos e 1.052 mortes (atualizado hoje, 1 de fevereiro). Laura Lima, de 51 anos, moradora da Nova Brasília, no Complexo do Alemão, foi uma das pessoas que sofreram com a doença. “Eu comecei com muita dor no corpo, principalmente nas pernas. Fui na UPA da Penha e pedi um encaminhamento para fazer o teste da covid, como era dia 31 de dezembro não consegui fazer na hora, consegui fazer segunda, dia 4. Nisso, minha filha foi contaminada também. Sentíamos muita dor, que não passava nem com analgésico. Não sei como peguei porque sou costureira e trabalho em casa. Infelizmente é complicado lutar com algo invisível”, conta.
Vacina e Covid-19
Algumas vacinas contra a covid-19 foram desenvolvidas no mundo. Entre elas, estão a inglesa Astrazeneca e a chinesa Coronavac, que tiveram seus pedidos de uso emergencial concedidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A Astrazeneca tem eficácia geral de 70%. Já a Coronavac demonstrou proteção de 78% contra os sintomas da doença e 50% de eficácia global nos estudos feitos no Brasil. Também foi informado, pelo Instituto Butantan, que o imunizante teve eficácia de 100% contra casos mais graves. Ambas as vacinas serão ministradas em duas doses, com intervalos de três meses (Astrazeneca) e 14 dias (Coronavac). Os imunizantes já chegaram ao Rio de Janeiro e os primeiros a receberem a vacina serão os profissionais da saúde.
Segundo pesquisa do Datafolha, divulgada em dezembro de 2020, o percentual de brasileiros dispostos a se vacinar contra a covid-19 é de 73%. A resistência à vacina é mais alta entre quem tem de 25 a 34 anos (30%), entre quem está vivendo normalmente durante a pandemia, sem mudar nenhum hábito (37%). O fato é que historicamente e cientificamente, a vacinação é o método mais eficaz para prevenção e controle de doenças. Para Laura, as pessoas que se recusarem a tomar vacina estão colocando a sua e a vida dos outros em risco. “Não desejo o que eu passei para ninguém. É uma doença horrível, que mata. Isso de não tomar vacina é falta de informação. Se eu pudesse, tomaria agora mesmo”.
Com informações da Fiocruz, do Ministério da Saúde, da Secretaria Municipal de Saúde e da Revista Científica Multidisciplinar Núcleo do Conhecimento