Imagine que em meio a uma pandemia, em que a principal recomendação é que todos fiquem em casa, em isolamento social, que lavem bem as mãos, mantenham a higiene e usem máscara, trocando a cada 3 hora, não se possa fazer isso. Essa é a recomendação do Ministério da Saúde para que haja prevenção contra o coronavírus. Contudo, na Favela da Rocinha não é possível seguir essas orientações, pois o direito básico do ser humano, para que possa viver de modo saudável, está sendo negado: O direito à água. Isso mesmo! Na Rocinha não tem água há doze dias.
A principal indagação dos moradores é: Quando teremos água? A equipe do Voz das Comunidades foi até a uma das maiores favelas da América Latina para ver de perto o que estava acontecendo. A todo momento, carros da CEDAE entram e saem da favela, funcionários estão há doze dias fazendo escavações em diversos pontos da Rocinha, para tentar descobrir o problema que até o dia de hoje não foi encontrado. Os moradores chegaram a se concentrar na entrada da Rocinha, com o objetivo de reivindicar uma resposta da CEDAE, e o que encontraram foi um policiamento reforçado, enquanto a população só queria o que lhe é seu por direito.
Para tentar amenizar a situação, a Cruz Vermelha, em parceria com G10 das Favelas (Wiliam Oliveira – Missão Rocinha), doou para os moradores galões de água, mas infelizmente acabou rápido e muitos moradores ficaram mais um dia sem água. A CEDAE chegou a disponibilizar carros pipa para os moradores, que ficava na parte baixa na favela, e eles com balde d’agua se abasteciam. Porém, isso não estava sendo suficiente para as famílias.
Dona Miriam, moradora do largo do Boiadeiro, que mora com seu filho e esposo, disse a equipe que um galão de água não dá para um dia, e que um balde disponibilizado pela CEDAE também não resolve o problema, e que muitos moradores, idosos, doentes, com uma família maior e que mora na parte alta da favela, não tem condições de ficar de ficar circulando em busca de água.
O carro pipa não chega até essas pessoas, e, ainda sim, é muito pouco para abastecer a favela. Já a dona Maria, moradora da Rocinha na localidade Vila verde, tentou conseguir um galão. Desempregada, a moradora diz que não tem mais dinheiro para comprar galões de água, só que chegando no local, a doação tinha acabado e Dona Maria, extremamente cansada dessa situação, decidiu ir para a casa da irmã em Rio Comprido até a situação se resolver. Alguns moradores falaram que em alguns momentos chegou a sair água das torneiras, mas era tão “barrenta” que eles não teriam como utilizar.
Conversamos com o presidente da Associação de Moradores, Wallace Pereira, e ele falou que não é de hoje que a Rocinha sofre com falta de água, principalmente na parte alta da favela. Mas, dessa vez, está muito complicado com 12 dias sem água. A associação chegou a pedir aos diretores da CEDAE para que estivessem na comunidade dando uma solução imediata e, desde então, a empresa está fazendo diversos “buracos” na favela. Segundo o presidente, para descobrir o que está acontecendo. Para o presidente da associação, isso é um constrangimento que a população da Rocinha está vivendo, está criando um problema muito sério para os moradores que estão em meio a uma pandemia.
Em nota, a CEDAE disse que: “A companhia vem atuando ininterruptamente na região desde a última sexta-feira (17/07), a fim de identificar vazamento encoberto que estaria reduzindo o abastecimento. No entanto, interferências como construções sobre as redes da Companhia aumentam o grau de complexidade do trabalho.”
Técnicos permanecem atuando para localizar o vazamento e concluir o reparo. Vale informar que a CEDAE está disponibilizando o fornecimento de água por meio de carro-pipa e realizando manobras operacionais para reforçar o abastecimento.