12 dias sem solução: Moradores da Rocinha continuam sem água e a CEDAE não tem previsão do reabastecimento

A equipe do Voz das Comunidades esteve no local conversando com os moradores que já não aguentam mais viver nessa situação
Rocinha. Foto: Matheus Guimarães / Voz das Comunidades
Rocinha. Foto: Matheus Guimarães / Voz das Comunidades

Imagine que em meio a uma pandemia, em que a principal recomendação é que todos fiquem em casa, em isolamento social, que lavem bem as mãos, mantenham a higiene e usem máscara, trocando a cada 3 hora, não se possa fazer isso. Essa é a recomendação do Ministério da Saúde para que haja prevenção contra o coronavírus. Contudo, na Favela da Rocinha não é possível seguir essas orientações, pois o direito básico do ser humano, para que possa viver de modo saudável, está sendo negado: O direito à água. Isso mesmo! Na Rocinha não tem água há doze dias. 

A principal indagação dos moradores é: Quando teremos água? A equipe do Voz das Comunidades foi até a uma das maiores favelas da América Latina para ver de perto o que estava acontecendo. A todo momento, carros da CEDAE entram e saem da favela, funcionários estão há doze dias fazendo escavações em diversos pontos da Rocinha, para tentar descobrir o problema que até o dia de hoje não foi encontrado. Os moradores chegaram a se concentrar na entrada da Rocinha, com o objetivo de reivindicar uma resposta da CEDAE, e o que encontraram foi um policiamento reforçado, enquanto a população só queria o que lhe é seu por direito.

Moradores da Rocinha recebem galões de água. Foto: Matheus Guimarães / Voz das Comunidades

Para tentar amenizar a situação, a Cruz Vermelha, em parceria com G10 das Favelas (Wiliam Oliveira – Missão Rocinha), doou para os moradores galões de água, mas infelizmente acabou rápido e muitos moradores ficaram mais um dia sem água. A CEDAE chegou a disponibilizar carros pipa para os moradores, que ficava na parte baixa na favela, e eles com balde d’agua se abasteciam. Porém, isso não estava sendo suficiente para as famílias.

Dona Miriam, moradora do largo do Boiadeiro, que mora com seu filho e esposo, disse a equipe que um galão de água não dá para um dia, e que um balde disponibilizado pela CEDAE também não resolve o problema, e que muitos moradores, idosos, doentes, com uma família maior e que mora na parte alta da favela, não tem condições de ficar de ficar circulando em busca de água.

O carro pipa não chega até essas pessoas, e, ainda sim, é muito pouco para abastecer a favela. Já a dona Maria, moradora da Rocinha na localidade Vila verde, tentou conseguir um galão. Desempregada, a moradora diz que não tem mais dinheiro para comprar galões de água, só que chegando no local, a doação tinha acabado e Dona Maria, extremamente cansada dessa situação, decidiu ir para a casa da irmã em Rio Comprido até a situação se resolver. Alguns moradores falaram que em alguns momentos chegou a sair água das torneiras, mas era tão “barrenta” que eles não teriam como utilizar.

Conversamos com o presidente da Associação de Moradores, Wallace Pereira, e ele falou que não é de hoje que a Rocinha sofre com falta de água, principalmente na parte alta da favela. Mas, dessa vez, está muito complicado com 12 dias sem água. A associação chegou a pedir aos diretores da CEDAE para que estivessem na comunidade dando uma solução imediata e, desde então, a empresa está fazendo diversos “buracos” na favela. Segundo o presidente, para descobrir o que está acontecendo. Para o presidente da associação, isso é um constrangimento que a população da Rocinha está vivendo, está criando um problema muito sério para os moradores que estão em meio a uma pandemia. 

Wallace Pereira, presidente da Associação de Moradores da Rocinha. Foto: Matheus Guimarães / Voz das Comunidades

Em nota, a CEDAE disse que: “A companhia vem atuando ininterruptamente na região desde a última sexta-feira (17/07), a fim de identificar vazamento encoberto que estaria reduzindo o abastecimento. No entanto, interferências como construções sobre as redes da Companhia aumentam o grau de complexidade do trabalho.”

Técnicos permanecem atuando para localizar o vazamento e concluir o reparo. Vale informar que a CEDAE está disponibilizando o fornecimento de água por meio de carro-pipa e realizando manobras operacionais para reforçar o abastecimento.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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