Em mais um ciclo eleitoral, governo do Estado promete reativação do Teleférico do Alemão

As obras deveriam ter começado no dia 14 de fevereiro, conforme informou a atual gestão, mas até agora nada
Foto: Matheus Guimarães / Voz das Comunidades
Foto: Matheus Guimarães / Voz das Comunidades

Entre anos de eleições e promessas de campanhas, a situação de descaso com a acessibilidade da população no Complexo do Alemão continua firme. Pois, há mais de dois ciclos eleitorais, os moradores encaram a imagem de degradação do teleférico que, em seus tempos de atividade, garantia a mobilidade urbana, em um trajeto de 16 minutos, nos bairros de Bonsucesso e Complexo do Alemão (Adeus, Baiana, Alemão, Itararé e Palmeiras). E, novamente, em um ano marcado pela votação a nível de Estado, o “bondinho” retorna aos holofotes dos candidatos. 

Desta vez, a atual gestão do Governo do Rio de Janeiro, no comando de Cláudio Castro, definiu o início das obras de recuperação das estações do teleférico do Complexo do Alemão para o dia 14 de fevereiro, essa última segunda-feira. Mas, até agora, não há nenhuma movimentação, tampouco informação no site do governo do estado. De acordo com a assessoria de comunicação do governador, a partir do início efetivo da reforma, a previsão de conclusão é de dez meses. Além disso, após o término da reparação, a Secretaria de Estado de Transporte começará o processo de escolha da empresa que administrará o sistema de transporte. 

Enquanto o sistema que garante a mobilidade de forma acessível e barata para os moradores não retorna, cenário que entra no seu sexto ano de inatividade, pessoas como Lucinda de Carvalho, de 60 anos, realiza o dobro de esforço para a sua locomoção. Moradora da região da Alvorada, no Complexo do Alemão, ela, que mora na comunidade desde os anos 70, relembra os tempos de facilidade no deslocamento. 

“Eu já vi tudo no Alemão! Sou moradora antiga, desde os anos 70. Peguei toda a mudança por aqui. A chegada do teleférico mudou a vida de todo mundo, pois era um meio de transporte rápido, barato e que todo mundo gostava. A sensação de ver a comunidade pelo alto atraía até visitantes”, destaca.

 Moradora antiga do Alemão, Lucinda relembra os tempos de facilidade na mobilidade urbana.
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Se antes, o cenário era de facilidade e de prosperidade com o fluxo de visitantes, hoje, com o funcionamento suspenso desde 2016, o contexto é de abandono nas sedes do teleférico, com riscos à integridade física dos moradores que possuem residências nas proximidades, como aconteceu em fevereiro de 2019 na Baiana, em maio de 2020, e no Morro do Adeus, quando cabos energizados se soltaram das torres das estações e atingiram casas próximas aos locais. Além desse risco à população, o entorno do local também passa por um processo de descaso público, servindo como cemitério de sucata das viaturas da Polícia Militar. 

Em 5 de maio do ano passado, nas vésperas da “comemoração” dos 10 anos da instalação do teleférico no Complexo do Alemão, o atual governador anunciou, pela primeira vez desde que assumiu, a vontade de reativação. Na época, a reportagem do Voz das Comunidades entrou em contato com o Núcleo de Mídia Alternativa e Comunitária (área de comunicação do Governo do Rio de Janeiro que cuida dos assuntos relacionados às comunidades cariocas) e foi informada que o projeto de recuperação das estações de energia do Teleférico do Alemão tinha sido concluído.

“Ouvi que ia voltar, né? Espero que seja verdade. Ajudava muito os moradores mais velhos que tinham dificuldades na mobilidade. O que nos resta é sonhar com a volta”, almeja com esperança Lucinda. 

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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