“A Marielle era uma pessoa única e divertida do jeito dela. Nós éramos vizinhos e jogávamos baralho em frente de casa, na Maré”, relembra o motorista de aplicativo, cria da Maré, Edalton, de 46 anos, que guarda com muito carinho e saudades os momentos compartilhados com a vereadora.
Marielle Franco, cria do Complexo da Maré, foi assassinada no dia 14 de março de 2018 enquanto retornava do evento Jovens Negras Movendo as Estruturas, na região central do Rio de Janeiro, há quatro anos.
Andamento da investigação
Desde a morte da parlamentar e do seu motorista Anderson Gomes, há precisamente 1461 dias (quatro anos), o processo sobre quem cometeu o crime é atravessado por incertezas na investigação. Pois, durante esse período, a Polícia Civil do Rio de Janeiro alterou cinco vezes o cargo de delegado titular da Delegacia de Homicídios da Capital, departamento responsável por mortes violentas no Estado.
Entretanto, em 2019, a Justiça do Rio de Janeiro acusou o sargento reformado da Polícia Militar Ronnie Lessa como autor dos disparos que vitimou Marielle Franco e Anderson Gomes. Segundo as investigações do Ministério Pública do Rio de Janeiro, Lessa é apontado como chefe da milícia da Zona Oeste do Rio e com relações próximas com o Escritório do Crime (um grupo de assassinos de aluguel). Além dele, o MPRJ indiciou o ex-PM Élcio Vieira de Queiroz, acusado de ser o motorista do veículo de Lessa.
Para Edalton, a inconclusão de quem planejou o assassinato de Marielle é uma afronta aos ideiais que a vereadora representava. Entre eles, a defesa integral dos Direitos Humanos e a transparência nas investigações. “O que fizeram com a Mari foi uma brutalidade, mas não conseguiram apagar o que ela significava. Ela está viva nas memórias dos amigos, familiares, pessoas que acreditavam no trabalho dela e, principalmente, nos legados que construiu”, detalha.
Instituto Marielle Franco
Dentro das heranças da cria do Complexo da Maré, como a parlamentar se definia, está o Instituto Marielle Franco (IMF) que potencializa as bandeiras que a vereadora defendeu: a conexão e potencialização de mulheres negras, LGBTQIA + e pessoas de origem favelada.
A instituição, que não possui fins lucrativos, também ajuda no financiamento de projetos e ações sociais através de parcerias.
Manifestações por Marielle e Anderson
Familiares e amigos da vereadora e do motorista fizeram, na manhã desta segunda-feira (14), em frente à Câmara Municipal, um ato para marcar os quatro anos dos assassinatos e também para cobrar soluções das autoridades. Logo cedo, uma faixa com a pergunta “Quem mandou matar Marielle?” também foi estendida em frente ao Palácio Pedro Ernesto, sede da câmara.
Além disso, parentes e amigos fazem uma missa em memória das duas vítimas, na Igreja de Nossa Senhora da Candelária, Centro do Rio.
Com o objetivo de continuar a regar as sementes de Marielle e de reivindicar justiça, o IMF organiza também o Festival Justiça por Marielle Franco e Anderson no Circo Voador, na Lapa, região central do Rio de Janeiro. De forma gratuita, o evento, que acontece a partir das 16h, reúne diversos artistas e lideranças dos movimento negro. Além das apresentações artísticas, o ato conta com palestras e oficinas.