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Moradores de favela dizem o que pensam sobre política a partir da realidade que vivem

Há quatro anos, o Brasil bateu recordes de votos nulos, brancos e abstenções; Flávio e Thiago, crias do Alemão, são dois eleitores dessa estatística
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Estamos em ano eleitoral. Nas eleições de 2018, o Brasil teve o maior percentual de abstenções no primeiro turno, desde 1998. Isto é, quase 30 milhões de brasileiros não foram votar. Além disso, os votos brancos e nulos passaram de 10 milhões no primeiro turno. Já no segundo turno, tivemos o maior número de votos brancos e nulos desde 1989, totalizando 8,6 milhões (quanto às abstenções, foram mais de 31 milhões). Esses dados são do TSE (Tribunal Superior de Eleitoral) e escancaram um cenário de falta de fé na política brasileira. Alguns favelados estão nesse barco, mas por qual motivo?

Desempregado e pensando em votar nulo mais uma vez, Flávio da Silva, de 27 anos, é cria da Alvorada, no Complexo do Alemão. “Eu não acredito na política porque já tem anos que eles prometem que vão fazer isso, mudar aquilo, e até agora não vejo mudança nenhuma. Teve o PAC aí, dizendo que teria trabalho para não sei quantas mil pessoas, aí hoje o teleférico tá aí parado e um monte de desempregados”. Para ele, falta principalmente oportunidade de emprego. “É muito difícil alguém da favela ser visto por alguém de ‘lá de fora’. É difícil conseguir um bom trabalho e um transporte público decente. A favela é vista de outra maneira. Quem tá lá fora é privilegiado. Quem tá na pista é uma coisa, mas quem vive aqui dentro sabe o que passa”, conta. 

Flávio da Silva diz que irá votar nulo mais um ano
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

Thiago Antônio, de 21 anos, também é morador da Alvorada desde pequeno e não votou nas últimas eleições. Questionado sobre acreditar nos candidatos de 2022, ele responde que não de forma efetiva. “A política não representa a favela. A gente só é falado e visto quando é para beneficiar eles. Como todo mundo que tá dentro da favela é visto como bandido, então, para eles, tanto faz como tanto fez. Quem é da favela que se ajuda e lá fora somos vistos como errados. Então nunca vou ver quem é da política ajudando quem é da favela”. Thiago desabafa que a maioria dos políticos vê a favela como um lugar que só tem bandido, tiroteio e droga, não como um lugar com vários talentos, como ele mesmo conhece. “Falta oportunidade. Existe muita gente talentosa na favela que é desperdiçada”, finaliza.

Thiago Antônio não acredita que a política representa a favela
Foto: Selma Souza / Voz das Comunidades

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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