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Moradora do Complexo do Alemão faz “vaquinha virtual” para cursar medicina na Argentina

A jovem precisa bater a meta para se manter durante a vida acadêmica em outro país

Hemyli Silva, de 22 anos, moradora da localidade Nova Brasília, no Complexo do Alemão, desde criança tem o sonho de ser médica. A jovem tentou entrar para a faculdade de medicina em uma universidade pública, através da nota do ENEM, mas não atingiu a pontuação exigida para o curso. Pensa que ela desistiu? Pelo contrário, ela, a partir daí, buscou mais garra para continuar correndo atrás do seu sonho e agora a jovem pede ajuda através de uma vaquinha online.

A jovem continuou perseverando e encontrou a chance de finalmente cursar a faculdade em outro país. Ali começava os primeiros passos dessa moça cheia de vontade de vencer. A oportunidade apareceu no país vizinho, Argentina, e foi na Universidade de Buenos Aires (UBA) que a jovem decidiu fazer o tão sonhado curso de medicina. Para isso, já se matriculou no curso de espanhol e, com o apoio da sua mãe, Alessandra Souza, foi pesquisando mais sobre o país, passagem e custos para a estadia e um assessor para ajudar na documentação. A previsão era para que Hemelly fosse estudar agora em Junho. No entanto, com a pandemia, a jovem teve que adiar os planos para Fevereiro de 2021.

Mesmo a faculdade na Argentina sendo pública, Hemyli não tem condições de se manter durante a vida acadêmica. Como o centro universitário não possui uma república, a jovem tem que se preocupa também com gastos e moradia.  “Minha mãe diz que vai mandar um dinheiro para mim todo mês. Ela é revendedora de cosmético, mas eu tenho mais dois irmãos. Vai ficar apertado, eu sei .” 

Hemyli perdeu o emprego nesse período de pandemia. Já em contato com brasileiros que estudam na Argentina, percebeu a necessidade de serviços de manicure no país. Então, ela se matriculou num curso e começou a se aperfeiçoar em fibra de vidro e acrigel. Quando desembarcar no país, usará dos seus conhecimentos de manicure para garantir uma renda até se estabilizar. Enquanto a viagem não chega, está juntando dinheiro.

Pensando em todos os detalhes, a jovem fez uma planilha com todos os gastos. Mesmo fazendo unha e sua mãe trabalhando, entretanto fica inviável os custos da sua viagem. Sem mais nenhum apoio, mãe e filha decidiram criar uma vaquinha on-line para a jovem conseguir finalmente realizar seu sonho. 

Hemyli com a mãe e os irmãos. Foto: acervo pessoal

E essa história de inspiração já está rendendo bons frutos. Alessandra, mãe da Hemyli, vendo o empenho da filha, voltou a estudar. A vendedora, incentivada pela jovem, terminou o ensino médio. Inclusive, começou a fazer faculdade.

Hemyli já anseia pelo tão esperado momento de se tornar médica: “Estou bem feliz e ansiosa. Já quero chegar e batalhar para conseguir algo, conhecer outras pessoas, outra cultura. Eu nunca sai do Brasil. Vai ser um grande passo na minha vida.”

Essa é a história da menina que sonhou desde de criança em cuidar de doentes. Vai sair do Complexo do Alemão com um sonho e, um dia, voltará com o canudo na mão. E, não só elevará o nome da favela, mas também nos encherá de orgulho. 

Para acessar a Vaquinha virtual: https://www.vakinha.com.br/vaquinha/medicina-na-argentina-hemily-silva

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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