No Complexo da Maré, a Orquestra “Maré do Amanhã” readaptou seu ensino e dinâmica de ensaios a nova realidade de isolamento social, para que os alunos não ficassem sem aulas. A orquestra se organizou em 3 grandes grupos para atender aos alunos, e não parar suas atividades. Essa divisão busca frisar a dinâmica do trabalho em três segmentos: aprendizagem, correção e execução.
O músico de 38 anos, Felipe Kochem, que há 6 anos é o Maestro Titular da Orquestra Maré do Amanhã, tendo neste período já se apresentado nos maiores palcos do país, realizando exibições e turnês – dentre as quais se destacam a turnê no Nordeste do Brasil (Natal, Recife, Maceió e Aracaju ) e a Turnê na Itália -, explicou ao Voz das Comunidades como tem sido realizado esse trabalho com os jovens músicos.
“O primeiro grupo é o de musicalização infantil, onde atendemos milhares de crianças e adolescentes. É o grupo que temos uma dificuldade maior de atender, pois o nosso “elo” é o EDI que estão fechados. Pensando nisso, elaboramos alguns desafios semanais, postados na internet, para que estes alunos possam realizar as tarefas musicais e possam nos enviar os vídeos. Essa dinâmica tem surtido um efeito bem legal.
Segundo Grupo é aquele iniciante que faz aula na sede da orquestra. Este é um grupo que já tem contato com os instrumentos da Orquestra (Violino, Viola, Cello, Baixo, Flauta Transversal, Flautim, Flauta Doce, Oboé, Violão e Cajon). Com este grupo enfrentamos um desafio diferente, não temos mais a dificuldade de ser limitado ao elo escola para ter contato com os alunos, pois temos os contatos com todos eles, e conseguimos nos comunicar por telefone e na maioria dos casos por WhatsApp. Mas, a dificuldade com eles é outra. A “inexperiência” com o instrumento e principalmente a não habilitação ainda para afinar o próprio instrumento, (…) assim pensamos em passar para eles atividades teóricas, envolvendo leitura musical que é indispensável para a vida musical.
E o terceiro grupo é o da Orquestra da Maré do Amanhã, onde tivemos outros desafios. Não há mais o problema do fácil contato e tão pouco o problema relacionado com a autonomia no próprio instrumento, pois eles já são habilitados a afinar o próprio instrumentos. Então criamos a aula por naipes, em reuniões no aplicativo Zoom, sempre com minha presença e de um professor. Desta forma temos conseguido resultados excelentes”, disse o coordenador artístico.
O Projeto Orquestra Maré do Amanhã tem um núcleo e fica no CIEP Operário Vicente Mariano e engloba a Geração de Renda e Oportunidade de Trabalho, a Educação para Qualificação Profissional e a Garantia dos Direitos das Crianças e do Adolescente.
Em 1999, quando as investigações sobre a morte do Maestro Armando Prazeres apontaram o Complexo da Maré como o provável local em que residiria o assassino, Carlos Eduardo Prazeres, filho do maestro, ligou-se totalmente à região em agosto de 2010, onze anos após o doloroso episódio. Carlos Eduardo escolheu a região para uma espécie de “vingança do bem”, e ali decidiu retomar o projeto de formação musical que o pai havia iniciado.
O projeto hoje tem quase 10 anos, e trabalha com crianças e adolescentes de comunidades em risco social. A orquestra ensina música clássica a praticamente 4 mil alunos, em 24 escolas do Complexo da Maré.