Duque de Caxias registra 14 mortes por coronavírus após ser a última a fechar comércio na Baixada

Duque de Caxias é agora a segunda cidade no estado em número de mortes por covid-19, são 14 no município...

Por Renato Silva

Duque de Caxias é agora a segunda cidade no estado em número de mortes por covid-19, são 14 no município, atrás apenas da capital, que registrou 82 mortes até o dia 9 de abril. O estado já registra 129 mortes pela doença e 2.216 casos confirmados. Além de outras 98 mortes em investigação.

Os números chamam a atenção, já que a cidade foi a última da Baixada Fluminense a publicar decreto para o fechamento do comércio

No último dia 2 de abril a prefeitura de Duque de Caxias divulgou uma atualização no boletim extraordinário do dia 31 de março, quando finalmente decretou o fechamento do comércio na cidade por 15 dias como medida emergencial contra o novo coronavírus. Entre as determinações estão a suspensão de atividades comerciais pelo período de 15 dias, como teatros, cinemas,shopping centers, estabelecimentos comerciais similares, além de bar, boteco e afins. Foi nesse dia que Caxias registrou o primeiro óbito por covid-19.

O município já atingiu a marca de 320 casos suspeitos e 46 casos confirmados, além de 119 casos descartados.

Antes do decreto caxiense, algumas prefeituras da Baixada Fluminense determinaram o fechamento do comércio mesmo antes de haver registro oficial de infectados pelo novo coronavírus. Foi o caso de Nova Iguaçu, São João de Meriti, Mesquita, Nilópolis, Queimados, Japeri, Paracambi e Magé.

Parte do comércio em Caxias funcionando há poucos dias do decreto.
Foto: Renato Silva/Favela em Pauta.

Tido como reduto bolsonarista, Duque de Caxias foi o município da Baixada que entregou mais votos, em termos absolutos, ao então candidato Bolsonaro em 2018 — foram 300.227 (68,79%), seguido por Nova Iguaçu, com 291.877 (72,48%). Em 2018, pouco após as eleições, foi inaugurado em Caxias o 3º colégio da PMERJ, chamado Percy Geraldo Bolsonaro, em homenagem ao pai do então presidente eleito.

Com a postura de postergar o fechamento obrigatório do comércio, Caxias se tornou também a cidade da Baixada mais alinhada ao discurso do presidente, que vem criticando o isolamento social como forma de combate à Covid-19.

“Caxias é um dos PIBs mais importantes do estado, mas isso não gera enfrentamento às desigualdades raciais e de classe. Então imagina nesse cenário do coronavírus, com essa fala irresponsável dos gestores, balizada pelas religiões neopentecostais e pelas milícias, nas comunidades”, diz Fransérgio Goulart, 47, coordenador da Iniciativa de Direito à Memória e Justiça Racial, organização da Baixada Fluminense que lida com políticas de segurança pública e racismo. “É óbvio que as comunidades da Baixada e de Caxias serão mais afetadas, os negros e mais pobres é que vão sofrer mais”, afirma.

Ainda de acordo com Fransérgio, o grande desafio será promover um diálogo com os eleitores do presidente, pessoas também próximas que frequentam as igrejas neopentecostais, importantes validadoras dos discursos mais radicais da religião em detrimento da ciência. “Como fazer esse diálogo de conscientização e também de articulação solidária, pra tentar minorar os efeitos [dessa política], fazer chegar um caminhão pipa, que a prefeitura não faz?”, pergunta.

Diante desse cenário, surgem iniciativas para tentar diminuir o impacto da chegada do coronavírus na cidade. O grupo Movimenta Caxias vem promovendo, através das redes sociais, uma campanha de arrecadação de material de higiene e alimentos não perecíveis para doação. “Em tempos de tantas dificuldades, nós temos que nos juntar para ajudar quem precisa”, afirma o grupo em sua campanha online de socorro.

Outra é a #CoronaNaBaixada, uma união de organizações e coletivos (Fórum Grita Baixada, Casa Fluminense, Iniciativa Direito à Memória e Justiça Racial, Movimenta Caxias, entre outros) que também faz campanha para oferecer a pessoas mais pobres acesso a itens básicos de higiene.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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