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Subnotificação de casos do Coronavírus é mais um problema no combate à pandemia

coronavirus. Foto: Matheus Guimarães / Voz das Comunidades
coronavirus. Foto: Matheus Guimarães / Voz das Comunidades

A Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ) soltou, no dia 8 de abril, uma nota oficial negando as duas mortes por Covid-19 e confirmando seis novos casos na Rocinha. Entretanto, no fim da tarde do mesmo dia, a própria SES-RJ se desmentiu, afirmando que há seis mortes confirmadas em regiões de favelas no Rio: duas na Rocinha, duas em Vigário Geral, uma no Manguinhos e uma na Maré. Este caso ilustra bem como o sistema de contagem de casos e óbitos pelo novo coronavírus no Brasil está defasada por conta das subnotificações, que já foi até comentada pelo secretário estadual de Saúde de São Paulo, José Henrique Germann.

Por que essa subnotificação?

O principal motivo para os números irreais de confirmações de Covid-19 aqui no Brasil é a falta de testes. O Ministério da Saúde reconhece esta precariedade e recomenda que se façam exames laboratoriais para coronavírus apenas em pacientes graves. Em contrapartida, o Ministério aceita, desde o dia 17 de março, notificações da doença sem a necessidade de testes, apenas baseado em diagnóstico clínico epidemiológico. Tal medida, no entanto, não é recomendada pelas Secretarias de Saúde dos estados, que preferem subnotificar os casos. Em São Paulo, o Instituto Adolfo Lutz é o único que atende a rede pública do estado e tem cerca de 17 mil exames represados. Destes, 9 mil são tratados como prioridade e serão analisados em até dez dias.

Enquanto isso, temos inúmeros casos de mortes que não receberam o vírus pandêmico como causa pelo país. Em Rondônia, uma idosa de 66 anos teve a contaminação confirmada após a morte, mas sequer estava na lista de casos suspeitos anteriormente. Em São Paulo, um homem de 59 anos morreu no dia 27 de março depois de apresentar tosse, cansaço e comprometimento dos pulmões. O resultado do exame de Covid-19, feito uma semana antes, não saiu mesmo após quatro dias do óbito. Aqui no Rio de Janeiro, além do exemplo da Rocinha, a primeira morte pelo novo coronavírus também gerou polêmica e ressaltou o quanto os dados do governo estão desencontrados. Na ocasião, a vítima foi uma idosa de 63 anos, moradora de Miguel Pereira, que estava internada no Hospital Municipal Luiz Gonzaga. A Prefeitura da cidade postou sobre o caso e, horas depois, foi desmentida pela SES-RJ. Um dia depois, a própria Secretaria de Saúde confirmou que tratava-se de um caso do Covid-19.

O que tudo isso gera?

Na última terça-feira (7), foi divulgado um estudo feito na Universidade de Göttingen, na Alemanha, pelos cientistas Christian Bommer e Sebastian Vollmer. Tal estudo diz que apenas 6% das infecções foram detectadas em todo o mundo e que o percentual seria de apenas 0,95% no Brasil.

A preocupação aumenta à medida que os dias passam. Os números divulgados são mascarados, há uma tentativa de achatamento da curva de crescimento da pandemia e algumas autoridades rechaçam que o Covid-19 é grave, o que gera um certo relaxamento por parte da população, que não enxerga a real situação da doença no Brasil. Isso faz com que as ruas continuem com a circulação acima do recomendado e haja maior risco de aceleração do contágio. 

Já é possível ver este movimento de crescimento quase exponencial nos gráficos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que mostram as curvas de novos casos por dia e casos acumulados desde o primeiro registro do coronavírus no Brasil.

Gráfico de casos acumulados feito pelo site de monitoramento da Fiocruz
Gráfico de casos novos feito pelo site de monitoramento da Fiocruz

Problema x solução

A gravidade de subnotificar os casos do Covid-19 é conhecida pelos profissionais. Por isso, alguns centros de estudos e laboratórios estão mobilizados para acelerar a quantidade de testes realizados, tendo em vista que não se pode chegar ao pico de contaminação sem ter a real noção da situação do Brasil. O Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA) trabalha em uma versão nacional dos kits de diagnóstico rápido de Covid-19. A Fiocruz Ceará cedeu uma série de equipamentos para a realização dos testes no estado. Já a Fiocruz Rio de Janeiro segue na produção de testes do tipo PCR – feito através de um cotonete na boca ou no nariz da pessoa, com resultado em cerca de 4h –  para envio ao Ministério da Saúde, que realiza a distribuição para os estados.

Para lutarmos contra um vírus tão letal e que se espalha tão rápido, todos temos que fazer a nossa parte. E uma das coisas fundamentais é dar informações reais para a população, sem pensar em nada além do bem da saúde de todos nós. A circulação de informação mais eficaz, entretanto, depende do entendimento de que ajudar a criar consciência não é gerar pânico.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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