#Opinião: “O rap é compromisso, não é viagem”

Foto: Marcio Simnch/ Divulgação
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Foto: Marcio Simnch/ Divulgação

Como dizia o rapper Sabotage “O rap é compromisso, não é viagem”. A junção do ritmo e da poesia deu origem a um dos gêneros musicais mais conhecidos do mundo. Sempre revolucionário, o rap aponta os problemas sociais, as desigualdades, combate o racismo, também fala de amor e da realidade na periferia. Ele resiste! Por isso, não é viagem.

O compromisso é dos rappers que, de certa forma, influenciam e salvam a vida de inúmeros jovens, principalmente negros, e dos fãs. Emicida, Karol Conka, Rincon Sapiência, Criolo, são apenas alguns dos artistas que fazem sucesso no país e levam a sério o compromisso, com letras profundas e necessárias.

Em 1992, os Racionais Mc’s participaram do projeto “RAPensando a Educação”, idealizado pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. O grupo visitava as escolas públicas da capital para discutir, com alunos e professores, assuntos relacionados ao tráfico de drogas, pobreza, violência, enfim, conteúdos que, infelizmente, fazem parte da rotina periférica. O Racionais Mc’s, criado no final dos anos 80, sempre combateu o racismo e a opressão do Estado. O grupo é referência quando se fala em compromisso.

“Ao menos seja verdadeiro. O mais perto que cês chegaram do morro é no palco favela do Rock In Rio”. Essa letra, da música “Ladrão”, do Djonga, mostra que a responsabilidade também envolve as pessoas privilegiadas, que se definem como desconstruídas e revolucionárias, mas não contribuem para as causas defendidas pelo gênero.

O Djonga, além de apontar certos comportamentos, no mínimo inadequados, dá uma aula de história em suas músicas. O mineiro, de Belo Horizonte, representa o estado no cenário nacional, mas retrata assuntos comuns no país, como o preconceito, a violência contra os jovens negros, a miséria nas regiões marginalizadas e a luta diária pela sobrevivência.

Foto: Fabio Tito/G1

Se você não reconhece os seus privilégios, não adianta gostar de rap. Se você acha normal a cada 23 minutos um jovem negro ser assassinado no Brasil, se é contra as cotas e defende o discurso de “bandido bom é bandido morto”, não adianta gostar do gênero. Os indivíduos que têm pensamentos como estes não compreendem a essência do movimento, nem o que os artistas, geralmente, defendem em suas canções.

Em 2017, o rap foi o gênero mais popular nos EUA, com 24,5% do total de música consumida no país, de acordo com um relatório divulgado pela consultoria Nielsen. Ele também é o gênero musical mais ouvido na hora de fazer exercícios físicos, segundo um relatório do Spotify.

Foto: Leo Martins/ Agência O Globo

Como dizem por aí “Está na moda ser preto, desde que você não seja preto” e aproveitar o conteúdo produzido pelos negros sem nenhuma responsabilidade. No último show de rap que fui, do Baco Exu do Blues, fiquei impressionada com a empolgação do público, visivelmente rico (e branco). Até aí, nada demais. Mas, quando o Baco cantou “Preto e Prata”, me perguntei: Será que eles sabem o que esta música significa ou só estão cantando por que acham maneiro?

Em um país onde determinados grupos precisam exigir todos os dias os seus direitos e batalhar diariamente por melhores condições de vida, é preciso muito mais do que apenas cantar as músicas e seguir os rappers nas redes sociais.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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