A casa Dona Amélia, na Travessa Hazor, número 22, é o mais novo espaço multiuso na CDD. Um muro branco com letras coloridas anuncia uma casa que não é só uma residência familiar: é um espaço com o portão destrancado, um convite para entrar. Projeto idealizado pela psicóloga Ingrid Ciss, de 24 anos, a Casa Dona Amélia é uma homenagem a sua avó falecida, uma antiga moradora que veio para a CDD na época das remoções. Ingrid transformou um espaço de luto em um local de acolhimento ao próximo. “A casa era dos meus avós. Eu era muito apegada à minha avó Amélia. Lembro que, quando passei para UERJ, foi uma felicidade enorme para ela. Fui a primeira da família a ingressar em uma universidade pública”, rememora Ingrid.
Após a morte da avó, seguida pelo falecimento do avô, Ingrid – que é nascida e criada na Cidade de Deus – não conseguia mais entrar na casa devido à dor da ausência. Mas ela precisava trabalhar e tocar os seus projetos pessoais depois de formada. Surgiu, então, a ideia de utilizar a casa da avó Amélia, que fica em frente à Praça da Loura.
“Primeiro pensei em um consultório com preço popular, mas comecei a conversar com as pessoas e, quando fui perceber, minha ideia inicial já havia se transformado em outra coisa. Eu já trabalho com projetos sociais em outras áreas, então resolvi ouvir meu coração”, explica. A casa, que estava passando por obras para abrigar o consultório da psicóloga, acabou virando um espaço lúdico para as crianças de 5 a 13 anos, com livros, brinquedos, fantasias e oficinas. Uma delas, por exemplo, é a “Ai Que Meleca”, uma oficina de experiências químicas com ingredientes simples encontrados em casa.
Por enquanto, todas as atividades são coordenadas por Ingrid. Ela conta: “Aqui não é o um espaço para o “não pode”; pelo contrário, procuro apenas intermediar em casos que eles, sozinhos, não conseguem resolver. Fora isso, deixo que fiquem à vontade. E as crianças têm respondido bem a essa liberdade”, assegura.
Uma casa para todos
Ingrid explica que o objetivo é criar um espaço para todos, independentemente da idade. Por isso, ela também começou um projeto de acolhimento às gestantes locais. São 15 gestantes no total, que recebem apoio psicológico e também um enxoval para o bebê. A casa, que tem 3 meses de funcionamento, já tem mães na fila de espera para participar do projeto. Serão 8 encontros quinzenais, aos sábados, com conversas informativas. As gestantes ganharão um book fotográfico, enxoval e também acolhimento psicológico individual. O projeto tem a mesma metodologia do Providenciando a Favor da Vida, que oferece assistência às adolescentes e jovens grávidas no Morro da Providência. “O Providenciando nos ajudou com as doações dos enxovais e também participei de uma formação com eles”, conta a psicóloga.