Certa vez um homem muito afobado de terno, bufando e suando, entrou no consultório de um psiquiatra renomado e disse ofegante: Doutor, me ajude! Eu quero me matar, não aguento mais minha vida, perdi milhões em um investimento errado que fiz, minha esposa parece só ligar para o meu dinheiro, não me procura para sexo, meus filhos não saem do videogame, eu chego em casa cansado, me deito, tomo remédios para dormir porque ando muito ansioso e no dia seguinte acordo desmotivado, não aguento mais trabalhar, não aguento mais esta vida e depois, perder estes milhões da minha empresa foi a gota d’água.
O Doutor olhou para o homem que parecia de fato estar mal, realizou sua consulta, prescreveu alguns medicamentos e já acostumado com este tipo de cena não deu muita importância ao caso. Todavia, quando o Doutor já tarde da noite voltava para casa, deparou-se com um morador de rua na porta de seu carro pedindo-lhe esmola com um enorme sorriso no rosto. O Doutor animado por ver aquele sorriso resolveu fazer uma boa ação e deu uma quantia gorda para os padrões de uma esmola ao homem, sem se importar se o dinheiro seria gasto com comida, bebida ou drogas, deu-lhe 50 reais.
Naquele momento os olhos do morador de rua se encheram de lágrimas e ele disse: “Dotô, não me alembro da última veiz que toquei em uma nota dessas, Deus abençoe o sinhô, esse é o dia mais filiz da minha vida.” O Doutor um pouco emocionado com as palavras do homem, mas sem deixar transparecer perguntou-o: “Mas você é feliz nos outros dias?” Ele ficou sério, olhou-o nos olhos e disse em um tom bastante convincente: “Meu Dotô, eu sou o cara mais filiz desse mundão!” E saiu sorrindo e acenando para todos os carros que passavam apressados com seus motoristas estressados.
Essa história não é uma invenção minha, é um fato que este Dotô me contou e que o intrigou bastante, e ele ainda me indagou no fim: Amigo, o que é o sucesso? Esse mistério que a mídia aponta estar no bolso dos ricos e não na alegria dos humildes. Guardo esta pergunta até hoje, sem conseguir respondê-la. Mas, eu sei o que é a felicidade e quem me respondeu esta pergunta não foi o doutor, não foi minha vida e nem mesmo o homem que o doutor ajudou, foi o morador de rua que eu ajudei.
Certo dia lembrei-me da história do doutor e resolvi colocá-la à prova, pois estava me sentindo mal com a vida, logo eu que tenho tanta oportunidade. Sai do meu trabalho na prefeitura de minha cidade, andei algumas ruas e fui a destino do mendigo que se sentava em frente ao Banco do Brasil, perguntei a ele o que ele queria, ele me pediu uma lata de leite ninho. Achei estranho o pedido, perguntei por que ele queria uma lata de leite ninho em vez de um salgado ou simplesmente dinheiro. Ele me disse que era por causa de alguns remédios que precisa tomar com leite. Pensei: Ok! Se não for para isto que, pelo menos, eu oportunize a este homem desfrutar do bom sabor do leite ninho e comprei-lhe a lata. No entanto, antes de entregá-la, me agachei ao lado dele e perguntei: “Amigo, você é feliz?” Ele também sorriu e de forma espalhafatosa deu um grito: “RAPAZ, MAS COMO SOU! SOU E MUITO.” Foi então que o perguntei: “E qual é o segredo?” Ele me olhou nos olhos e em tom convincente simplesmente me disse: “É ter vontade de viver.”
Logo após me veio o silêncio, observei aquele homem sentado no asfalto sem uma das pernas, com feridas enormes na barriga… e percebi que a felicidade é uma questão de opção.