Paz nas Favelas: Uma utopia ou um futuro não tão distante assim?

O significado de “favela” nos dias atuais tem origem de uma planta que havia na região de Canudos, na Bahia, e é um arbusto típico do sertão nordestino: O faveleiro, mas que é popularmente conhecido como favela. Quando os soldados, que foram enviados para a Guerra de Canudos (1896 – 1897), chegaram aqui no RJ, não receberam o dinheiro que o Governo prometeu e não tinham aonde morar. Logo, eles construíram precárias habitações em um morro (hoje, o Morro da Providência). Como o local lembrava muito as moradias que já existiam em Canudos, o morro foi batizado de favela.

Vários anos depois, a definição mais próxima do que seria a favela atualmente é “um conjunto habitacional no qual sua criação procede à partir da omissão de direitos estatais”, ou seja, a ausência do Estado dentro daquela periferia para cumprir direitos básicos como saneamento básico, coleta de lixo, educação de qualidade, saúde digna, direito de ir e vir, segurança, etc. É onde uma parcela da população, mesmo enfrentando todos os seus problemas diários (dentro e fora da comunidade) e cumprindo seus deveres, consegue achar a felicidade e a alegria nas formas mais simples. Porém, nas últimas operações policiais realizadas dentro delas e que estamos cansados de sentir na pele, a imagem veiculada é outra.

Onde a cultura, o lazer, os projetos sociais, etc. deveriam ser mais valorizados, incentivados e trazidos para estes lugares, acaba dando lugar a uma sangrenta tragédia: Dezenas de moradores (mulheres, homens, crianças, adolescentes e até idosos e idosas) estão entrando nas estatísticas de mortes e os que sobrevivem tem seus direitos violados (furto de dinheiro de aluguel de morador, abuso de poder, casas invadidas sem permissão do proprietário, etc.) durante essas operações, aulas são interrompidas devido a violência que cresce e persiste em existir (e até matar, mesmo estando dentro da própria escola) e por aí vai.

Segundo Benedetto Croce, “a violência não é força mas fraqueza. Nem nunca poderá ser criadora de coisa alguma, apenas destruidora”. Quantas pessoas inocentes, que já são oprimidas diariamente, precisam morrer e entrar nessas estatisticas para que percebam isso? Quando a paz que vocês tanto proclamam em seus discursos cheios de populismo chegará as nossas casas e as nossas vidas? Quando poderemos ir e vir sem medo de tomar um tiro? Quando poderemos ser felizes e andar tranquilamente na favela em que nascemos?

A reflexão desse artigo não é sobre o saldo desses combates (quantas drogas ou armas foram apreendidas e nem em quantos bandidos foram presos ou mortos) mas as consequências que afetam as pessoas que não tem nada a ver com isso. Elas precisam ser expostas e discutidas com toda a sociedade sem ter a necessidade de apontar para lado X ou lado Y (como se existissem vencedores e que isso é uma perca de tempo diante de tantas mortes) mas para o problema e suas decorrências e propôr soluções que não destruam mas valorizem aquele local que já sofre diariamente e que clama exaustivamente por paz.

Esta coluna é de responsabilidade de seus autores e nenhuma opinião se refere à deste jornal.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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