Vocação: O Problema do Brasil – Um tema a se pensar ao se fazer o ENEM

Você compreende a gravidade de ser levado a ser o que não se desejou ser, tudo por conta de uma pressão social? Pois bem, este problema afeta oitenta por cento dos brasileiros, claro que isto é apenas uma especulação que me salta aos olhos quando entro em uma sala de curso pré-vestibular e vejo oitenta dos cem alunos quererem cursar medicina… O que há de tão incrível na medicina que todos nascem com uma vocação coincidente? Será que é por que oitenta por cento dos brasileiros nasce com a vocação de salvar vidas, ou por que oitenta por cento dos brasileiros nasce com a vocação para enriquecer?

Acho uma incrível coincidência a vocação do brasileiro estar tão atrelada à uma das profissões mais enriquecedoras do mercado. Ora! Você pode pensar que isto é óbvio, quem é que vai rejeitar a possibilidade de fazer um curso como Medicina, Direito ou Engenharia, visto que estes geralmente trazem bons retornos financeiros? A questão não é essa… Sabe a sala a qual me referi onde oitenta dos cem alunos queriam fazer medicina? Pois bem, esta coincidência não advém obviamente de uma vocação comum a todos, mas da forte pressão que a sociedade exerce comumente a todos, e o pior de tudo é que nesta sala, no máximo cinco dos oitenta passarão em Medicina, e outros poucos nos cursos mais visados do mercado além da Medicina…

Qual o problema que isto pode surtir na sociedade futuramente? Bem, se fizermos algumas contas, podemos especular que cerca de setenta por cento dos oitenta que queriam Medicina serão de certa forma frustrados nas profissões que escolheram secundariamente. Imagine, você acha que estes profissionais se destacarão carregando um sentimento de insatisfaçam por estarem empregados em uma profissão de segunda opção? Obviamente não. E por que trago este tópico à esta coluna? Percebe-se um habito cultural diferente na Europa com relação ao que diz respeito à escolha das profissões pelos jovens e a aceitação da sociedade…

Em muitos países de primeiro mundo quando jovens dizem aos pais que almejam ser professores de sociologia, filósofos, psicólogos, físicos ou arquitetos, tem-se total apreço dos pais na maioria dos casos. Já no Brasil o jovem ouviria provavelmente de seu pai algo como: Será que você de fato quer fazer isto meu filho? Existem outras profissões que dão um retorno financeiro melhor de imediato… Jaz ai um problema, muitos filhos se conformariam com tal sugestão dos pais, tios ou avós, e então abandonariam seus sonhos por puro receio de serem reprovados pela sociedade…

Mas, há uma justificativa histórica para este modelo de pensamento. O Brasil enquanto colônia era um verdadeiro caos, uma Terra desconhecida, plural de raças e línguas. Os colonos que aqui residiam sentiam uma certa insegurança por estarem tão distantes da metrópole, e viam como única solução para sua segurança nesta terra desconhecida e selvagem, o acúmulo de riquezas e terras, dai surge esta mentalidade antivocação e em prol do materialismo. Se num país as pessoas se realizarem naquilo que nasceram para se realizar, com certeza muitos prêmios Nobel o povo deste país iria conquistar, e o Brasil, quantos prêmios Nobel tem? Nenhum… Será coincidência? Por que a Alemanha tem mais de 180 e é um país tão recente quanto o nosso praticamente? Será que é por que lá um pai ou uma mãe não se importa se o filho quer ser biólogo e não médico? Creio que sim…

Por fim, termino esta coluna com apenas uma frase para se refletir sobre: Hoje em dia as obrigações são tantas, que tomam vez às vocações. E os grandes gênios do futuro, se tornam entediados do presente. Cuidado, o seus pais e a sociedade como um todo podem contribuir para o sentimento deste tédio… E se você não se importar em senti-lo pelo resto da vida ao sacrificar seu sonho para agradar à sociedade, poderá se frustrar, e o pior, não agradar nem a si mesmo…

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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