Após quase duas décadas de mobilizações, Parque da Serra da Misericórdia recebeu R$ 11 milhões da CAIXA, mas a prefeitura devolveu o dinheiro no ano passado
A Serra da Misericórdia é a última área verde de 27 bairros do subúrbio carioca, estendendo-se entre os bairros de Bonsucesso a Madureira. O pedido de instituições locais e dos moradores é que seja criado um grande parque ecológico,como intuito de revitalizar a mata e criar equipamentos de uso público para as cerca de 2,5 milhões de pessoas que moram no entorno, incluindo as favelas que integram a Serra, como os Complexos do Alemão e da Penha. A reivindicação vem acontecendo desde o início dos anos 90.
A Serra é mencionada nos documentos oficiais como área de relevância ambiental e paisagística da cidade desde 1992, mas só foi reconhecida após a publicação dos decretos 19144/2000, que criou a APARU (Área de Proteção Ambiental e Recuperação Urbana) – definindo regras de uso dos recursos naturais, e o 33280/2010, que criou o Parque Urbano da Serra da Misericórdia – prevendo equipamentos sociais como ciclovias, quadras, espaços para eventos e cursos etc.
Lamentavelmente, nenhuma dessas leis saiu do papel e a realidade da Serra é de total descaso. A única ação da prefeitura – o projeto murão de reflorestamento – não dá conta de fazer valer as determinações previstas.
No caso do Parque Urbano, a situação é desoladora. Já foram feitos e abandonados dois projetos arquitetônicos. De acordo com a EMOP, executora do programa, havia outras necessidades durante as obras do PAC. Apesar da expectava e da esperança criada, após conseguir a liberação de R$15 milhões do fundo socioambiental da Caixa e com um novo projeto apresentado pela prefeitura em 2011, os moradores foram privados novamente do direito de possuir uma área de lazer preservada. Dessa vez, o movo foi a construção de outro projeto, em um pequena área do Parque.
Hoje pertencente ao grupo Lafarge Holcim, no local existe a maior pedreira em funcionamento na cidade, há mais de 50 anos emitindo poeira e partículas de rocha na atmosfera. Esta atividade compromete o meio ambiente e a saúde de diversos moradores do entorno e de toda a zona norte, contribuindo para que esta região tenha a pior qualidade de ar e das águas da cidade.
A campanha #EuAmoSerradaMisericórdia foi criada a partir da descoberta da rescisão do contrato que previa a verba para o Parque da Serra da Misericórdia. Os moradores e e algumas instituições lançaram a hashtag com o objetivo de reivindicar a implantação imediata desse Parque e a regulamentação da APARU para modificar a realidade ambiental das favelas do entorno da região.
Mutirões, caminhadas ecológicas e festivais musicais foram promovidos pela Campanha com o objetivo de mobilizar os moradores e chamar a atenção das autoridades para esta questão. Durante um encontro com Eduardo Paes, os integrantes tiveram como resposta o comprometimento público do prefeito em visitar a área, mas a campanha prosseguirá até que as políticas públicas se tornem realidade.