Apesar de ser crime, o racismo ainda passa despercebido para alguns moradores do Complexo do Alemão. Segundo pesquisa realizada pelo Voz das Comunidades, 74% dos entrevistados não consideram desigualdades raciais como algo relevante e grande parte dos entrevistados não consideram o tema ao escolher seus representantes políticos.
A pesquisa ouviu 56 moradores, dos quais 14 afirmam ter sofrido racismo e 33 já presenciaram algum caso; e esses dados também refletem a realidade nacional. Segundo pesquisa do Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec), 9 em cada 10 pessoas já presenciaram atitudes racistas, as maiores vítimas são pessoas negras, seguidas por indígenas e pessoas africanas.
Raphael Machado, de 37 anos, conta que vivencia situações de racismo e, na tentativa de evitar que seu filho de 1 ano e 7 meses sofra as mesmas coisas, reforça a autoestima da criança desde o berço. “Eu ensino que ele é lindo, falo isso todo dia”. Entretanto, casos como o de Raphael, não são maioria no CPX. Cerca de 83% dos entrevistados nunca discutem racismo com familiares ou amigos, revelando uma barreira no combate ao problema.
Fabiene Teixeira, de 49 anos, é mãe de uma adolescente que foi vítima de racismo. Ela conta que, após o ocorrido, recebeu um pedido de desculpas, mas não sentiu sinceridade. “Parecia apenas que era para amenizar o que passou”, comenta.
Para ela, é importante educar sua filha para resistir às ofensas, mas também para estar preparada para o inesperado: “Eu peço pra ela se impor e colocar quem a ofender no lugar”. Fabiene entende a importância de discussões sobre o tema e vê como essencial a penalização dos atos racistas. “Todo mundo precisa se sentir protegido”.
O crime de racismo foi equiparado ano passado ao de injúria racial. A pena pode chegar a prisão de dois a cinco anos com pagamento de multa. Além disso, os crimes são imprescritíveis, ou seja, não perdem o efeito legal mesmo com o passar do tempo.
Outro problema revelado pela pesquisa é a falta de engajamento político. Segundo os dados, há pouco interesse em pautas raciais nas eleições. Apenas 15% dos moradores consideram questões raciais ao votar e só 13% já participaram de eventos contra o racismo.
A partir da análise dos dados, percebe-se que, mesmo conscientes, poucos se mobilizam na causa. Há poucas conversas com com amigos e parentes sobre o assunto e o racismo não é enxergado uma questão importante no território. Apesar disso, embora em número reduzido, algumas poucas pessoas estão engajadas nos debates raciais.