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Falta de conscientização sobre as fezes dos animais domésticos no Vidigal incomoda os moradores

O mal cheiro, os resíduos orgânicos, os bichos que se atraem pelas fezes dos cachorros e gatos se acumulam nos becos e escadas do Vidigal
Cachorro de uma moradora na coleira. Foto: Leticia Gonçalves Lisboa

Os moradores e trabalhadores que circulam pela comunidade do Vidigal, Zona Sul do Rio de Janeiro, reclamam do tanto de dejetos de animais que tem em becos, escadas ou na própria ciclovia Tim Maia, localizada na Avenida Niemeyer – local que transitam pessoas todos os dias.

Os cocôs dos pets representam muitos perigos, principalmente para crianças que andam descalças e brincam nos becos. Além disso, as fezes de pets trazem outros problemas como mal cheiro, sujeira, atração de pragas como moscas e ratos. Essas consequências acabam por atrapalhar o comércio local e também, no trânsito de pessoas nas escadas.

“Aqui na comunidade, a gente fala muito com as pessoas que têm seus animais. Eu digo que a minoria, quando sai do seu cachorro, sai com seu saquinho e colabora, mas a maioria não”, afirma Márcio de Farias, Presidente da Associação de Moradores do Vidigal. O problema de limpeza dos dejetos dos animais é maior do que o sistema de Gari Comunitário pode comportar. Composto por 5 trabalhadores que atuam em becos, ladeiras e dentro do Vidigal, a equipe não conseguem dar conta devido a “demanda dos pets”. Márcio defende que é necessário que os próprios moradores criem consciência sobre descarte das fezes as vias do Vidigal sujas.

Quando chove, o problema se agrava, pois a água leva as fezes para outro ponto da favela se acumulando junto com o lixo. O Vidigal também não conta com um número de lixeiras, o que dificulta o descarte correto. O abandono dos animais e a falta de identificação também são grandes problemas pois, vagando pelas ruas, os pets sobrevivem como podem, se alimentando de lixo e fazendo necessidades em qualquer parte da favela.

Márcio de Farias, presidente da associação de moradores do Vidigal.
Foto: Uendell Vinícius/Voz das Comunidades

O Vidigal não há tenda veterinária para de recolhimento desses animais ou mesmo ONG para cuidar da proteção aos animais abandonados e em situação de vulnerabilidade. Márcio relata que “a Sociedade União Internacional Protetora dos Animais (SUIPA) que atua em parceria com a Prefeitura do Rio, está fechada há um tempo. É um local fantasma, que não recupera mais os cachorros. No passado era muito eficiente esse trabalho deles”, declarou. O presidente também complementa, questionando a possibilidade do sistema Gari Comunitário acabar. “E aí como será? Às vezes todo mundo larga os cocôs no mesmo caminho, os becos são pequenos até mesmo para passear com os cachorros. Complica”.

Moradores conscientes mantém a limpeza no Vidigal

Danilo de Santos, conhecido como “Mineirinho”, é morador do Vidigal há 25 anos e tem um vira-lata que ele adotou há 4 anos. Ele encontrou o pet preso na corrente na praça de academia da terceira idade e acha uma falta de respeito quando as pessoas não limpam as fezes dos cães. “O cachorro não tem nada a ver! O mínimo necessário seria limpar a necessidade dele, isso é coisa normal. E até pra evitar odor e manter o campo limpo. Até pro próprio cachorro e pra todos”, conta “Mineirinho.

Mecânico Mineirinho. Foto: Leticia Gonçalves/Voz das Comunidades

Ele relata que observa as pessoas andando na ciclovia Tim Maia com os pets, que fazem necessidades. E o tutor não limpa. “Eu comento, eles não dão nem ideia, tem uns que ainda levantam o braço, questionam, enfim, tem outros que pegam. Aqui na praça também, tem presença das fezes, como eu trabalho aqui, eu passo uma vassoura”.

Ludmila Rancan, moradora há 3 anos do Vidigal e tem um cachorro chamado Davi. “A responsabilidade de catar as fezes do animal é de cada pessoa e não tem justificativa pra alguém não pegar. Mas pelo menos eu enfrento assim uma questão que é muito chata, eu cato, mas onde tem lixeira pra eu jogar fora?”, ressalta a moradora, que também alerta sobre a falta de lixeiras. “Por exemplo, se eu moro ali no 314 e eu ando com meu cachorro na ciclovia em direção a São Conrado, eu não vou encontrar nenhuma lixeira, numa via movimentada, que eu tenho que ficar carregando o cocô”.

Moradora do Vidigal passando com seu cachorro na Passarela da localidade 314. Foto: Leticia Gonçalves/Voz das Comunidades

Ludmila cita que já morou em uma outra comunidade, no Parque da Cidade, que é próximo do Vidigal, e relata que tinha ali era distribuído, em alguns pontos, saquinhos de cata-cocô, onde qualquer um poderia pegar e usar, o que tornava o ambiente mais limpo e era uma preocupação para a população daquele morro.

O Voz das Comunidades entrou em contato com a SUIPA, questionando sobre o funcionamento, mas até o fechamento desta matéria, não obteve respostas. Sobre a ausência de lixeiras na região do Vidigal, a Comlurb mantém normalmente a coleta domiciliar em toda a comunidade do Vidigal, diariamente. Em nota, a companhia afirmou que finalizou um estudo técnico e está programando para o período entre a última semana de novembro e a primeira semana de dezembro a instalação dos novos contêineres de grande capacidade (1.200 litros) no Vidigal.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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