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Dia do Nordestino: Histórias conectam favelas cariocas ao nordeste brasileiro

A migração nordestina trouxe a cultura para cá, mas de onde vem essas raízes?
Foto: Vilma Ribeiro/ Voz das Comunidades

O dia do nordestino é comemorado anualmente no dia 8 de outubro. O fluxo migratório de nordestino começou de meados do 1950, com a presença de cearenses, pernambucanos, paraibanos, baianos em territórios favelados das grandes capitais brasileiras. E a marca da identidade nordestina passou a fazer parte também, da cultura favelada.

Os migrantes vieram sozinhos ou com sua família, carregando seus sonhos, seus temperos, seus sabores e memórias de suas terras. E construíram suas histórias no Complexo do Alemão, Zona Norte do Rio.

“Viemos pra cá na cara e na coragem, meus pais e meus 8 irmãos”, detalha José Viana de Lima, 54 anos, cearense. Conhecido no Complexo do Alemão como “Zé do Tempero”. Ele conta que, na época, Ceará estava sofrendo com a seca, e consequentemente, levava muita fome para a população. Antes de chegarem ao Rio de Janeiro, o mais novo dos 8 irmãos faleceu por conta da fome.

O primeiro contato com o Rio foi morando na Favela da Maré (atual Conjunto de Favelas da Maré), quando ainda era de palafita (casa suspensa na água). “A gente tinha que se adaptar. Depois da palafita, passamos para uma casa melhor. Fomos morar na Nova Holanda. Meu pai trabalhava com construção civil”, conta Zé do Tempero. Sua vida começou mesmo a ter estabilidade quando os seus pais se separaram e sua mãe veio morar no Complexo do Alemão. Zé do Tempero, por sua vez, depois de chegar à maioridade, começou a trabalhar na construção civil e se casou com uma baiana.

“O Nordeste de hoje totalmente diferente. Mudou tudo. Não tem mais aquela dificuldade que tinha antigamente”, relata. E acrescenta o sentimento de identidade de pertencer as raízes nordestinas: “Eu tenho orgulho plenamente de ser nordestino. Ser cearense mesmo! Essa é a minha vida! E tô aí hoje, trabalhando vivendo a minha vida. Sou pai de cinco filhos”, conta ele que também detalha que todos os filhos foram criados no Complexo do Alemão, contextualizando sua vida na favela.

A memória do nordeste se intensifica com a culinária e os sabores que Zé traz em sua barraca há 7 anos. Ela fica localizada da Nova Brasília, um dos pontos mais movimentados do Complexo do Alemão. “Essa memória eu gosto sempre de resgatar dentro da minha casa. É o cuscuz. O famoso cuscuz nordestino”, fala ele sobre a culinária nordestina. ” Feijão verde é um famoso feijão de corda”.

“Eu vim em busca de emprego sozinha. Eu e Deus”

É o que conta Maria de Fátima da Silva, pernambucana, conhecida no Complexo como “Dona Fátima”. Ela saiu do seu estado com 17 anos. Hoje, dos 60 anos já completados, 47 são só de Rio de Janeiro. Dona Fátima conta que nasceu em Rio Formoso, mas foi criada na cidade dos seus pais, no Cabo de Santo Agostinho. Perdeu sua mãe muito cedo e começou a viver com seu pai, madrasta e seus 9 irmãos. A família era pobre e passava por necessidades.

Ela chegou no Rio para trabalhar, mas quando percebeu que o emprego não garantia seus direitos, largou o serviço. Em suas palavras: “Trabalhar, trabalhar, trabalhar, trabalhar e nada”, reforça Dona Fátima sobre a condição péssima de trabalho. Em um novo emprego, ela conheceu seu marido e deste relacionamento, teve 3 filhos e 2 netos. Todos criados no Complexo do Alemão.

“Eu acho eu tenho orgulho de ser nordestino, como você tem orgulho de ser carioca”, disse ela à nossa equipe de reportagem. “É muito bom. As minhas origens eu não esqueci, porque eu adoro cozinhar. Inclusive, eu tenho até um churrasquinho que funciona aqui sábado e domingo, o churrasquinho da Fafá, que é sucesso, graças a Deus. Comida boa, baião de dois!”, conta empolgada.

Na sua cozinha, segurando suas panelas de barro, Maria Fátima ressalta que a culinária é uma marca de qualquer nordestino. “Feijão no arroz, a macaxeira, o cuscuz. Aquele cuscuz amarelo? Vou até comer agora. Com manteiga, com ovo, porque o cuscuz mesmo se comia com manteiga, só manteiga. O tradicional pra mim é cuscuz com café, e aquele aipim cozido nossa senhora! Que delícia!”, conta Dona Fafá sobre os sabores do nordeste.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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