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Da remoção a  transformação de vidas pelo esporte; conheça Paulo Cypa, o treinador que faz a diferença no Vidigal

Treinador que leva o futebol como ferramenta de transformação social
Foto: Igor Albuquerque / Voz das Comunidades

Conhecido como Cypa, Paulo Cesar Bento, homem negro, pai, avô, professor de educação física e o primeiro da família a conquistar um diploma universitário aos 40 anos, é a grande referência do futebol no Vidigal, onde mora desde os 4 anos. Paulo tem o esporte como paixão, fonte de renda e acolhimento.

Neto da Dona Natinha, nasceu no Parque Proletário, na Gávea. Construído em 1942, pelo então presidente Getúlio Vargas, o projeto tinha como objetivo “moralizar os costumes” e “higienizar o modo de vida”. Nos anos 60, os moradores dessa área foram removidos para outras partes da cidade. Cypa e sua família foram para Paciência (na zona oeste do Rio), mas logo em seguida ocuparam o morro do Vidigal. 

Futebol como transformação da vida

Criado pela avó, semianalfabeta, uma mulher negra, que lutou incansavelmente pela saúde e educação de Cypa. Ele ao nascer teve problemas nos pulmões. Sua expectativa de vida era de seis meses; hoje, com 56 anos, vê sua vida se transformar através do futebol. 

Ele que  é formado em Educação Física  e pós-graduado em Marketing esportivo, já trabalhou na PUC-RJ (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) no setor de engenharia elétrica por 10 anos e abandonou a área por não se identificar. Ficou um ano e meio sem renda, “sem um real no bolso”, como diz Cypa. Iniciou então como professor de futebol aos 22 anos e, até hoje, é treinador e grande referência do Vidigal.

A trajetória de Paulo César é a prova de que o esporte é transformador. Viu um campo de futebol e a bola pela primeira vez ainda moleque, aos 2 anos de idade. “Foi amor à primeira vista”, nos contou. 

Professor, Cypa já está na terceira geração de alunos. Já estudou na Europa e tem o esporte como uma segunda pele. “Isso aqui é minha vida, o futebol é minha paixão. O futebol é um cimento que une. Fazemos futebol para formar caráter, para que essas crianças cresçam com dignidade e respeito. O Futebol constroi isso”, destaca.

Acolhimento, entendimento e orientação

Os direitos negados, os problemas relacionados à família e ao território estão no cotidiano dessas crianças, contudo, a partida de futebol é o momento em que esses problemas ficam do lado de fora do campo. Para Cypa, o ambiente futebolístico é um espaço no qual as crianças precisam de acolhimento. 

“O campo de futebol é como uma ilha cercada por vários problemas e aqui é o lugar do acolhimento. Essa criança precisa de acolhimento, precisa ser entendida e orientada. Às vezes, fazemos o papel da família”, conta. 

O futebol é o lugar de resistência e é formador de caráter. Cypa fala sobre as desigualdades enfrentadas na favela: “Quando se nasce pobre, preto e da favela, a corrida já largou e nós precisamos correr atrás”. Além disso, o trabalho desenvolvido no campo vai além da instrução e técnicas do futebol, existe um trabalho de sensibilidade com as crianças no que tange o respeito às diferenças, à diversidade e ao antirracismo.

“Não é dever julgar as pessoas pela cor, pelas questões sociais, orientação sexual ou religiosidade. Dentro do campo de futebol, todos nós somos iguais. O respeito é acima de qualquer coisa e eles precisam entender isso”, finaliza. A trajetória de Paulo Cypa mostra a importância dos investimentos no esporte e na educação para a transformação das realidades.

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EDITORIAS

PERFIL

Rene Silva

Fundou o jornal Voz das Comunidades no Complexo do Alemão aos 11 anos de idade, um dos maiores veículos de comunicação das favelas cariocas. Trabalhou como roteirista em “Malhação Conectados” em 2011, na novela Salve Jorge em 2012, um dos brasileiros importantes no carregamento da tocha olímpica de Londres 2012, e em 2013 foi consultor do programa Esquenta. Palestrou em Harvard em 2013, contando a experiência de usar o twitter como plataforma de comunicação entre a favela e o poder público. Recebeu o Prêmio Mundial da Juventude, na Índia. Recentemente, foi nomeado como 1 dos 100 negros mais influentes do mundo, pelo trabalho desenvolvido no Brasil, Forbes under 30 e carioca do ano 2020. Diretor e captador de recursos da ONG.

 

 

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